Seria incoerente quem participou na juventude de tantos
movimentos de reivindicação ser contra quem faz isso agora.
O cenário permite reivindicações e sair às ruas provoca
mudanças. O problema está na pauta. Grande parte sai contra "isso que está
aí", contra "os petralhas", contra "o governo mais corrupto
da história", pelo impeachment da presidente, “governo comunista”.
"Isso que está aí" é vago e amplo ao mesmo tempo: não se fala do
Judiciário podre, do que o presidente da Câmara e do Senado estão fazendo, da
corrupção na assembleia do Paraná, dos desmandos dos governadores. O uso de
"petralhas" apenas confirma dependência servil intelectual ao
representante da Naspers, Reinaldo Azevedo. "Governo mais corrupto da
história" foi o de FHC. Para ver isso, basta consultar dados. O tal do “governo
comunista” mostra uma indigência de pensamento e uma alienação desconcertantes.
Quem diz isso não sabe o que é comunismo. É apenas mais um papagaio, mas de
nível muito, muito baixo.
Impeachment está previsto na Constituição. Mas não há
elementos que o permitam. Não há crime de responsabilidade. A presidente não
está pessoalmente envolvida em corrupção. Nem com o “domínio do fato”. Sem
isso, é golpe. Não foi citada nos inquéritos da Polícia Federal, cujos
delegados responsáveis manifestaram nas redes sociais apoio a Aécio e falaram
mal dela. Falta de ética. Mesmo eles não conseguiram nada contra ela. Em
compensação, não puderam omitir a participação de Aécio. O Procurador Geral
resolveu excluir Aécio. A galera “pensante” já caiu nas redes reclamando a
presidente estar fora, mesmo não citada. Do Aécio? Ora, com ele, tudo bem. O
Cunha e o Calheiros publicamente ameaçam Janot, por estarem incluídos na lista.
Ora, Janot não fez a lista. Ele não pode incluir ninguém. Consegue tirar. Pôr
não. Será que as pessoas não percebem suas próprias limitações? Que estão sendo
inocentes úteis, usados? Que tal pedir impeachment de Calheiros e Cunha?
Não se vêem protestos contra a Câmara ter limitado as
investigações sobre a Petrobrás a partir de 2005. Ninguém se indigna por isso!
E lá vai bater panelas e xingar a presidente! Se digo isso, já vem os cordeiros
dizer que estou defendendo o PT. Uma pinoia! Querer investigação e punição de
todos é desejar Justiça.
E o SwissLeak, escondido pela imprensa? São bilhões de
corrupção. E Gilmar Mendes engavetando processos que podem beneficiar o País,
mas prejudicar seus senhores? E o tribunal que mandou dar posse a Paulo Maluf
(com prisão decretada em dezenas de países do mundo, por roubo no Brasil),
depois de uma instância inferior ter proibido por ter ficha suja? E soltar
Cachoeira, e anular as provas da Satiagraha, Castelo de Areia, etc.?
O MBL, um dos fomentadores do movimento quer a volta do
neoliberalismo. Estado mínimo. Saúde, educação privatizados. Livre mercado, sem
regulação, etc. Mudar o sistema de partilha da Petrobrás, já prometido por Serra aos norte-americanos tempos atrás se fosse eleito. Bom pra quem? Outro líder, Aécio Neves, está envolvido
pessoalmente em alta corrupção, mas conta com o beneplácito do Judiciário.
Perdeu a eleição em Minas, onde foi governador, e no Rio, onde passa a semana
desde os 17 anos (quando tinha emprego em Brasília, sem precisar comparecer).
Na pauta de reivindicações está não mexer com a regulação da
mídia. Os manifestantes estarão avalizando a concentração da mídia em seis
famílias ricas do País. Avalizando a derrubada da regulação da Internet, que
deu garantias ao usuário, contra o interesse das provedoras. Essa pauta
beneficia quem? Os manifestantes? De jeito nenhum. Estão fazendo papel de
otários, de gado. Os interessados estarão em suas salas assistindo ao
movimento em telões, com mordomos
servindo uísque.
Pede-se a volta dos militares. Isso é de uma insanidade sem
tamanho. Falta de saber História. Um mínimo que seja.
O FMI e o Banco Mundial registram dados que mostram um
Brasil forte. Em oito anos de governo de FHC, o PIB e a renda per-capita
baixaram. Estão lá os dados.
É preciso, antes de tudo, honestidade para se criticar.
Seria ingênuo dizer que o desagrado existe apenas nas classes mais abastadas. O
povão também está descontente com as últimas medidas governamentais. E tem que
reclamar mesmo.
Faça seu protesto, que é um direito. O manifestante deveria,
porém, portar um cartaz e dizer contra o que está revoltado. Daí ele legitima o
protesto. E há muita coisa pra que se protestar. Ou será, de novo, massa de
manobra.
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