É tudo muito louco. E muita
coisa é desanimadora.
Pessoas que vieram de
família pobre, que lutaram muito para conseguir "vencer na vida",
alguns até humilhados, quando conseguem ascensão social, passam a fazer com os
outros o que de ruim lhe fizeram. Além disso, procuram ler os mesmos jornais e
revistas da classe dominante, ou fumar o mesmo charuto, ou beber o mesmo uísque
ou vinho, e, claro, fazem piadas racistas e preconceituosas para melhor imitar.
Isso se vê muito, também, na
internet. Querem se identificar com seus contrários. Querem a todo custo ser
parecidos com os da classe dominante, imitam-nos, seguem-nos. Passam a ser
instrumentos dos poderosos. Muitos são levados a acreditar que têm ou tiveram a
vida difícil por destino, por vontade de Deus, o que contribui fortemente com a
continuidade da situação vivida e de se sujeitar à vontade de outro.
Isso acontece também com
pessoas que, mesmo não tendo vivido a pobreza lutam para galgar ou manter
condições e vida social melhores. Nada melhor do que imitar seus
"ídolos".
Educação tem a ver com isso? Segundo Paulo Freire,
quando a educação não visa a autonomia da pessoa, não estimula a criação do
senso crítico e apenas transmite informação, "desperta no oprimido o sonho
de ser opressor".
Chamo aqui de oprimidos os
dominados; de opressores, os membros da classe dominante. Classe dominante é a classe social que detém os meios e a
capacidade de produção. Normalmente controla o processo econômico e político.
A grande pretensão dos
dominados para se livrarem de sua situação não é se tornar uma pessoa com
liberdade, mas sim se converter em dominador, ou pelo menos conquistar sua
simpatia. O novo indivíduo sonhado são eles mesmos, convertidos em opressores,
dominadores. Quando passam a desejar ser como o dominador, aderem à classe
dominante, incorporam inconscientemente suas opiniões e passam a desprezar a si
mesmos e a seus iguais. Veem-se como incompetentes e incapazes. Passam a ter
uma espécie de dependência emocional. E partem em defesa de atitudes
condenáveis de seus "ídolos".
É comum um empregado
explorado chegar à posição de chefia e massacrar seus colegas. Quem já não
ouviu: "Não dá pra entender! Ele era um cara tão legal e virou um chefe
insuportável."
A classe dominante tem a
maior parte da mídia a seu serviço.
Controla 70% da informação no Brasil. Os Marinho, donos da Globo, são os
mais ricos do País. Os Civita, da Abril, estão em 11º lugar. Estão na lista da
Forbes entre os mais ricos do mundo.
Mantêm o monopólio da palavra, utilizada, quando querem, para ludibriar
quem os lê ou ouve e para massificar
seus valores.
Hegel dizia que a verdade do
opressor reside na consciência do oprimido. Então, o dominado é um hospedeiro
do dominador.
Isso acontece com todos?
Felizmente não. Depende da educação em casa e na escola. A escola normalmente
reforça as diferenças sociais. Mais uma batalha a vencer.
A propósito, a tentativa de
que haja participação popular na política que afeta a população está sendo
bombardeada pela mídia e seus sócios. Não querem que o governo ouça as demandas
da sociedade diretamente, sem intermediação da mídia. Consulta é comum para
eles, desde que não envolva a população. Como exemplo, temos a Agência
Brasileira de Desenvolvimento Industrial, que tem várias câmaras setoriais com a presença de
empresários dos diversos setores, para fornecer subsídios às políticas
setoriais. A Anatel, a Anvisa e muitos outros órgãos têm conselhos consultivos
com participação de empresários. E os dominados, mesmo sem saber o que falam,
papagueiam o mesmo discurso equivocado e maldoso sobre isso. Papagaio é a pessoa que memoriza e repete o que ouve ou lê, sem
compreender o que diz. Acha que compreende.
Com
certeza, qualquer um, sem muito esforço, identifica esse tipo de pessoa.
"A dominação revela um amor patológico: sadismo no
dominador, masoquismo no dominado." (Paulo Freire).