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quarta-feira, 22 de junho de 2016

INOCENTE ÚTIL: INGENUIDADE NOCIVA

Na foto, o casal estava de camisa amarela. Ele, com mais de 70 anos, expressão séria, mas com orgulho, segurava uma bandeira do Brasil. Participavam de uma manifestação liderada por um adolescente, o Kim, cuja forma de se comunicar com os liderados são palavras de ordem e uma imagem fazendo positivo com o dedão, ao lado de Eduardo Cunha e asseclas. Autor de frases que não ultrapassam três linhas, como "Sabem as semelhanças entre as feministas e o miojo? Ficam prontas em três minutos e são comida de universitário".

Vi a foto do casal no Facebook. Francamente, me fez pensar muito. Esse septuagenário é corrupto, safado por estar participando dessa manifestação de camisa amarela? Não é! Pelo que conheço dele, é pessoa honesta, religiosa, bom pai e avô. Ele quer um Brasil melhor, como a maioria de nós quer.

Até tempos atrás tínhamos contatos esporádicos, mas sempre de boa amizade. O afastamento, até nas redes sociais,  certamente aconteceu porque ele não concorda com minhas posições políticas. Também não concordo com as dele. Nunca falamos sobre isso, mas suas manifestações e seu afastamento mostram as diferenças. O afastamento é desnecessário, mas, se aconteceu, foi porque a amizade era frágil.

Me lembrei de outro, que teve uma infância difícil, foi discriminado e, com muita luta, conseguiu estudar e vencer na vida. Apesar disso, tem posições políticas iguais aos daqueles que pisavam nele. Como dizia Paulo Freire, o sonho do oprimido é ser opressor. A única forma de se identificar com quem o oprimiu é imitá-lo: lê as mesmas revistas, conta as mesmas piadas, reproduz suas posições políticas. Há também os que adquiriram a Síndrome de Estocolmo, que acontece também no campo das ideias.

Tanta discórdia pelo momento político que estamos vivendo. Tenho vários amigos e parentes com posições políticas diferentes de mim. Procuramos não falar sobre isso, e pronto! 

A questão é: o governo Dilma não foi bom mesmo. Consideremos que ela não soube negociar com os poderosos, e que o Congresso, principalmente a Câmara, não aprovou nada do que ela propôs. Mas, por isso, querer que ela saia, mesmo sem ser corrupta, e, para isso, ficando do lado dos maiores bandidos do País, é uma postura que exige reflexão. Os parlamentares queriam inviabilizar seu governo. O PT decepcionou e se igualou à maioria dos demais partidos. Dilma continuou íntegra.

Quem assumiu o governo é um condenado ficha-suja, seus parceiros são réus ou indiciados em corrupção. O casal idoso que apoiou o impeachment percebeu isso? Está orgulhoso pela contribuição que deu para o acesso direto dos bandidos ao poder? Percebe que o alto judiciário é parcial, o que nos põe a todos em risco de sermos vítimas em alguma causa que possamos ter?

Fiz uma pesquisa em vídeos e noticiários sobre agressões a manifestantes, ou a usuários de camisas vermelhas ou amarelas. Predominam agressões verbais e físicas dos de amarelo contra os de vermelho; dos manifestantes pró-impeachment sobre os contra. Em ambos os lados, muito ódio.

As últimas gravações liberadas mostram os caciques do PMDB, todos réus ou indiciados, se articulando para derrubar Dilma, de forma a depois abafarem a Lava Jato. O que os manifestantes têm a dizer?

A tal "Ponte para o Futuro", do PMDB, pode ser, na verdade, um viaduto para o passado, que está desabando com as estruturas podres.


De Eduardo Ramos: " O inocente útil, na maioria das vezes, é só isso mesmo.... inocente, e útil a uma causa, que na verdade não sabe qual é (a verdadeira, a que está oculta, ele desconhece...), mas como lhe é apresentada com toda uma roupagem costurada com os valores e princípios que lhes são mais caros, ele a INCORPORA integralmente, como uma esponja viva, não só na mente, acreditando nos símbolos e signos daquela ideologia, mas EMOCIONALMENTE, passando então a 'se sentir parte´ daquele grupo."

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