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sábado, 25 de julho de 2015

QUAL É A MÚSICA NAS ELEIÇÕES?


Nas eleições americanas, o Facebook, pelos milhões de dados que tem dos usuários, traçou um mapa de gosto musical em função da orientação política da população. Baseado, portanto, em dados concretos. Beatles, Pink Floyd, Bob Marley, por exemplo, têm preferência nos eleitores democratas. Lynyrd Skyrnyd, George Strait, Ted Nugent, dos republicanos. Preferência dos dois: Elvis, Bon Jovi, AC/DC.

No Brasil seria flagrante a diferença de gostos musicais, em função das preferências ou convicções políticas. Principalmente das convicções.
 
Há quem afirme que música não é apenas um gosto, mas ela retrata o nível cultural e atitude na vida da pessoa. Talvez possamos dizer que as músicas atemporais, que não são modismos, são as de qualidade. Elas permanecem. As da moda entram e saem rapidamente. As gravadoras determinam o que vai ser sucesso e por quanto tempo. Analogia: a mídia determina o que a população deve criticar, contra o que deve fazer manifestação, o que deve pensar, sem qualquer reflexão. Pior: em ambos os casos, as pessoas acham que é opção delas próprias.

A anulação do senso crítico musical anula também o senso crítico do nosso dia a dia? Com o “eu quero tchu, eu quero tcha, eu quero tchu tchá tchu tchá tchu tchá!” elegem-se Justus, Romanelli, Ratinho e demais membros da Bancada do Camburão no Paraná, Maluf, Richa, Cunha, Calheiros, etc.?  O “É nóis fazer parapapá, parapapá, parapapá, garrar, beijar, fazer parapapá” reelege esses políticos? Uns acham que sim. Vide o levantamento do Facebook. Outros acham que não tem a ver.

Esses levantamentos explicam a ocorrência de frequência de eventos. Não são absolutos. Assim, há pessoas com senso crítico baixo com relação a questões políticas, mas com gosto musical muito além dos modismos. A recíproca já é mais difícil, mas acontece.

Olhei algumas letras das 100 músicas mais ouvidas pelo Spotify em Curitiba. Vi um vídeo também. Os cantores fazem movimentos eróticos com os quadris. Na hora do “vem, vem, vem, vem, vem” os movimentos continuam, com a mão simulando uma masturbação. As meninas, bem vestidas e maquiadas, pulam e gritam.

As letras são machistas:  “A mulherada louca já perderam(sic) a noção, traga meia dúzia de pinga com limão”, “Hoje é só farra, pinga e foguete”, “Ela vira um grude nem dá pra arrumar uma briga. Não vai ter jeito de levar ninguém pra cama. Mas dá vontade de um `trenzinho´ diferente”, “Me vê com outra, beijando na boca. Foi barraco aquele rolo, lavação de roupa”, “Ela é maluca, é linda e sabe que é gostosa. É superpoderosa, ela sabe que leva qualquer homem pra cama  (depois sugere que ela leve 5 amigas para um encontro)”,  “Eu não dou mole não, eu jogo ela nos meus braços. Grudo ela no peito e tá feito um regaço”, “Foi pra noite, perdeu a linha. Solteira de carteirinha”, “Agarrei no seu cabelo e te dei um abraço. E falei baixinho no seu ouvidinho. Vamos lá pra casa que eu faço gostosinho”. Machismo puro, mulher-objeto. A galera feminina delira. Se os jovens ouvissem apenas em festas, pra dançar, ainda vá, junto com axés de dança da bundinha, da galinha, da poeira... Mas ouvem no dia a dia.

Nas baladas, a música é altíssima. Dúvida que tenho: a música é tocada tão alta, justamente porque as pessoas não têm o que conversar? Ou não conversam porque a música é alta? Como conseguem combinar um encontro pra se conhecerem melhor (além da imagem física)? Com mímica?

Tanta luta das mulheres de anos atrás para se livrarem do machismo, do preconceito, da submissão forçada. As moçoilas estão jogando isso no lixo: submissão consentida.

Meses atrás, participei de uma festa de confraternização. A música não era tão ruim (pelo meu gosto pessoal), mas o volume, insuportável. Impossível conversar. E era uma confraternização!

O professor Vladimir Safatle citou palavras de Marx num artigo: “A situação desesperadora da época em que vivo me enche de esperança”.  Na suposição de que situações aparentemente sem saída são apenas expressão de que finalmente  podemos começar a  nos livrar dos entulhos de nosso tempo. Também, e principalmente, no campo político.

Música pode explicar muita coisa. O Facebook que o diga.

Tomara que Marx esteja certo.


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