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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

LÁ E CÁ

Como sou eleitor na Espanha, e lá estava por ocasião dos debates entre candidatos, assisti, li jornais e, já no Brasil, votei via correio.

Nos debates pela televisão, assisti a líderes políticos jovens, com conteúdo, fundamento no que diziam, claros em suas posições e de seu partido. Não vi ofensas ou baixarias nessas discussões. Opiniões divergentes, mas com respeito. O candidato mais forte, atualmente no governo, não compareceu. Isso acontece aqui no Brasil também.

Ampla cobertura por televisão, rádio e jornais.

Nos intervalos dos programas de TV, a manchete: “Madrid Contaminada”. Vou a Madrid, vejo o mesmo alerta. LÁ, a nova alcaida (prefeita), que encerrou o domínio de neoliberais no governo municipal,  quer melhorar a qualidade de vida na cidade. Quer implantar o que, CÁ, o prefeito de São Paulo está tentando para melhorar a qualidade de vida das pessoas, com a mídia e boa parte da classe média criticando. A poluição em Madrid está em altíssimo nível. Deverão ser implantados um rodízio e, principalmente, a construção de ciclovias. Pelo menos não apareceram reclamações da classe média motorizada.

Isso me leva a pensar nos Fiscales espanhóis. Equivalentes aos nossos Promotores e Procuradores da Justiça. CÁ, dificultam ao máximo a implantação de melhoria na qualidade de vida do cidadão COMUM paulistano e engavetam denúncias de corrupção  quando são contra figurões do establishment. Mesmo as comprovadas, como aconteceu com o Metrolão, movido pela Justiça Sueca. LÁ, os Fiscales batalham pelo cumprimento de seus deveres constitucionais de defender o cidadão. Sem alarde. Sem parcialidade.

LÁ, aos domingos, várias ruas são abertas para a população brincar, dançar, correr.

CÁ, a prefeitura é multada por abrir ruas aos domingos para os cidadãos. O MP tentou impedir a pista exclusiva para ônibus e táxis. Tentou impedir a implantação de ciclovias. Os jovens promotores e procuradores aparecem na mídia tentando justificar as medidas impeditivas, mostrando claramente de quem  estão a serviço.

LÁ, os Fiscales pouco aparecem na mídia, mas fazem seu trabalho que orgulha a instituição.

CÁ, jovens descocados lideram jovens e idosos em passeatas defendendo causas que os próprios manifestantes desconhecem, como, por exemplo, privatizar a saúde e educação. Colocam como foco o impeachment, não do Beto Richa, do Cunha, do Agripino Maia, do Jáder Barbalho, do Justus, etc., mas de alguém que não tem qualquer acusação de envolvimento em corrupção. E esse direcionamento funciona.

LÁ, vi jovens líderes discutindo questões do seu país com fundamentos, argumentos consistentes.  

CÁ, há seletividade nas denúncias e punição de políticos corruptos. Sem indignação de boa parte da sociedade.

LÁ, como aqui, a corrupção corre solta. Mas há punição. Até membros da família real estão envolvidos (vamos ver se vão ser presos). Aliás, difícil entender como um país moderno, ainda mais com dificuldades econômicas, mantém a monarquia. Família inteira à custa do Estado, com mordomias, viagens... mas não governa.  Para isso, há o Presidente do Governo. E isso vai sendo passado de pai pra filho.

Daí, CÁ, vem o “Vai pra Espanha!”, equivalente ao “Vai pra Cuba!” de alguns raivosos. Puxa vida! Não existe lugar melhor do que o Brasil. Temos é que melhorar nosso país. Temos que fazer, como fazem nas empresas, um “benchmarking”. O Brasil tem a ensinar coisas à  Espanha. Espanha tem coisas a ensinar ao Brasil.

LÁ, autoridades andam de transporte público ou carro próprio. CÁ, pagamos carro, gasolina, celular, moradia, escola, viagens para eles. Quem sabe que o STF está comprando carros novos para os ministros a um custo de R$155 mil cada? Estão imunes a manifestações de rua.

CÁ, o Legislativo e, principalmente, o Judiciário, são poupados nas manifestações de rua e redes sociais. Seus membros deitam e rolam, tranquilos. A população ignora suas ações, graças ao direcionamento ao impeachment.

Quem sabe que a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2016  impôs regras para a concessão do famigerado e vergonhoso auxílio moradia para juízes e procuradores? Regra como, por exemplo, que os magistrados comprovem com recibo o gasto com aluguel. Ou que se pague quando não há imóvel funcional disponível. Coisas óbvias, mas... não há indignação quanto a isso. Os beneficiários da mordomia prometem entrar com recurso no STF. Tudo dominado!

Temos uma sociedade doente, agressiva, alienada. Faz parte dela o playboy que vive à custa da família e que disse que Chico Buarque era um merda. Faz parte o manifestante xingador, o inocente útil que não percebe e nem se importa com a seletividade do Judiciário, da polícia, do Ministério Público. Apenas protesta contra o que lhe mandam protestar.

A única solução disponível é nos unirmos contra a canalhada, de qualquer partido, religião ou região. Aderir a ela é a pior coisa.


Se todos pesquisassem, estudassem, analisassem as questões, tanto para se posicionar corretamente, quanto para não compartilhar bobagens e alimentar a servidão ideológica, o Brasil seria outro.