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domingo, 28 de dezembro de 2014

"TEJE" PRESO, CORRUPTOR!

Corruptor sendo preso? Como isso agora é possível? Ora, pela Lei nº12.846, de iniciativa do Executivo,  que entrou em vigor em janeiro deste ano.  Além de prisão de sócios e executivos de empresas corruptoras, há punição com multas sobre o faturamento bruto, valor nunca inferior ao da vantagem conseguida irregularmente. Se tivéssemos uma mídia comprometida com a honestidade, essa lei teria sido aclamada.

Com a Lava Jato, pela primeira vez os corruptores estão sendo caçados. Mesmo os da outra ponta, os corruptos, só recentemente começaram a ser presos (ainda que seletivamente). As prisões de corruptores são um indicativo de que a lei pode pegar. As blindagens que têm nas altas esferas poderão acontecer enquanto a massa estiver fazendo passeatas pela volta da ditadura militar e quebrando vitrines de lojas. Esse desvio de foco permite, por exemplo, que Maluf, procurado em 186 países (por corrupção no Brasil), com comprovado desvio de dinheiro público, incluído na Lei da Ficha Limpa por juízes que honram o Judiciário, tenha sido autorizado pelas instâncias superiores (sempre elas) a tomar posse como deputado federal. O desvio de foco permite ainda que um juiz (que virou magistrado por decreto, não por concurso) engavete processo que impede financiamento de empresas a campanhas eleitorais (o placar da votação estava 6X1 pela aprovação. Portanto, aprovado, mas...). Permite que o propinoduto tucano denunciado pela Siemens (que rendeu punições em países europeus) fique repousando tranquilo nas ricas gavetas do poder, com alta conivência da mídia. Nunca aconteceram manifestações contra o calcanhar de aquiles do Brasil: a parte podre do Judiciário. 

Saiu no Estadão que os recebedores de doações das empreiteiras envolvidas na corrupção foram o PT, o PMDB, o PP e "mais alguns" (adivinhem quem são os "mais alguns"). Na verdade, todos os partidos, exceto o PSOL, PSTU, PCO e PCB, foram financiados pelas empreiteiras acusadas de escândalo (pesquisa realizada pela Gazeta do Povo no TSE, publicada em 28.11.14). 


A corrupção na Petrobrás é coisa antiga. Em 1996, o jornalista Paulo Francis publicou  que o alto comando da empresa praticava corrupção e que vários de seus dirigentes mantinham dinheiro de propina em contas na Suíça. O presidente da empresa, Joel Rennó, não tomou qualquer providência. Apenas processou o jornalista. Era mais fácil processar o denunciante do que investigar e impedir a maracutaia. A Lava Jato está aterrorizando os antigos diretores e políticos dessa época. O fantasma de Paulo  Francis está assombrando. É preciso investigar tudo. Disse o jornalista Luiz Fernando Vieira, da Folha: “Por que passamos a achar que nos cabe apenas noticiar os acontecimentos mais recentes, sonegando ao leitor informações que ampliariam sua capacidade de discernimento?”. 

 Grande facilitador para a perpetuação da corrupção foi a Lei 9478/97, a "Lei do Petróleo", de FHC. Quebrou o monopólio da Petrobrás e instituiu o "procedimento simplificado" (contratar sem licitação). Daí, a vaca foi pro brejo. O PT manteve a promiscuidade, emporcalhou sua história e também tem que pagar por isso. Ele e os outros todos.

Há dez anos estão no Supremo duas ações para que a Petrobrás volte a obedecer a Lei de Licitações. Em uma das decisões, Gilmar Mendes (de novo!!!) permitiu que a empresa continuasse a contratar sem licitações.

Muitos querem mostrar instabilidade no Brasil pelo andamento da operação Lava Jato e pelo fato de estarem ocorrendo prisões. Bem o contrário! Punição de corruptos e corruptores mostra um país forte, não instável.

Vamos criticar, lutar para que a corrupção seja varrida no Brasil. Para se criticar, porém, é preciso ter informações, fundamentos, foco. É preciso sempre procurar dados corretos. Temos o direito e o dever da crítica. Afinal, estão nos roubando. Todos os ladrões e seus protetores têm que ser punidos.

angeloroman@terra.com.br  

No jornal: http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=62996&Not=



domingo, 21 de dezembro de 2014

QUE MENTIRA!!

A namorada gordinha pergunta: “Amorzinho, estou gorda?”. O namorado fala a verdade ou mente?

A mentira é assunto de discussão entre os filósofos. Alguns não a admitem em qualquer hipótese.  Para outros, ela é admissível em determinadas situações. Para Constant (filósofo francês): "Devemos dizer a verdade quando o ouvinte tiver direito a ela". Exemplo: Um assassino bate à sua porta com a intenção de matar seu amigo que está em sua casa. Você deve dizer a verdade quando o assassino perguntar sobre o paradeiro do seu amigo, ou deve mentir e dizer que o amigo não se encontra no local?  Segundo o filósofo, esse assassino não tem direito à verdade e você não tem o dever de dizê-la.

Cópia de telegrama diplomático da embaixada americana para o Departamento de Estado, vazada pelo Wikileaks, mostra a promessa de José Serra de "flexibilizar" as regras do pré-sal para os norte-americanos se ele vencesse as eleições. Isso é normal para o neoliberalismo, que tem como característica a absoluta liberdade de mercado,  a privatização, a desregulamentação  e o reforço do setor privado na economia. Já vivenciamos isso de 1995 a 2003. Concorde-se ou não, é uma ideologia válida, tentando voltar por aqui. Então, deveria ser assumida. Não negada na frente e seguida religiosamente por trás.  A população tem direito à verdade.

A questão é que nas campanhas políticas o discurso é outro. O telegrama não é desmentido (com o Wikileaks não há desmentidos). Apenas... mente-se. Assim como com a privatização da Petrobrás e do Banco do Brasil,  projeto governamental fartamente documentado e difundido na época. E agora negado. Alguém está mentindo! Quem mente em política conta com a memória curta da população e com o ódio cego que vai se pregando devagar, em doses homeopáticas, até chegar no ponto desejado

Comprovando os dizeres de Hitler de que "as grandes massas cairão mais facilmente numa grande mentira do que numa mentirinha", vimos, com mais ênfase na campanha política, publicações nada imparciais obtendo êxito em suas "notícias" e "denúncias" com o que há de pior em mentiras: rechear de fatos reais.  Elas passam despercebidas e são assimiladas facilmente, sem crítica.

Bem, na Bíblia há uma passagem que mostra Jesus numa “mentirinha” necessária. Em João 7:8 a 7:10 está que Jesus disse aos seus discípulos que subissem sozinhos até a festa dos Judeus que queriam matá-lo. Ele não iria. Porém, depois que os discípulos estavam todos lá, Jesus subiu sozinho, em segredo,  e passou despercebido no meio do povo. Disse que não ia, mas foi. Por uma boa causa: ele queria pregar e convencer os judeus a não o aniquilarem.

Santo Agostinho distingue o mentiroso do embusteiro. Embusteiro mente por fraqueza; o mentiroso gosta de mentir. E sofistica na mentira, com detalhes. Pelo que tenho visto, tem gente que mente sem necessidade. Até mentirinhas, facilmente sacadas pelo ouvinte, que finge que acreditou. Juntam-se um mentiroso e um fingidor. O mentiroso não consegue contar nada sem acrescentar inverdades.

Quanto mais a pessoa mente, mais acredita que diz a verdade. A primeira mentira dói; a segunda já é mais fácil, com explicações pra justificar. Depois ela se torna corriqueira. Passa a ser automática, da mesma forma que se respira.

Dá pra parar de mentir? Sim, primeiro a pessoa aceitando que é um viciado em mentiras. Depois, reeducando a mente para, quando quiser mentir, possa vencer esse impulso, se corrigir e, então começar a ser honesto consigo e com os demais ao seu redor.

Conhece alguém assim? Fora políticos, que já são as pessoas menos acreditadas pela população? Afinal...  todos mentem, seja por gosto ou por dever.


blog: angeloroman.blogspot.com

No jornal:
http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=62901&Not=QUE%20MENTIRA!!

domingo, 14 de dezembro de 2014

QUAL O SEU RÓTULO?

Muitos devem se lembrar do dono da Yoki, assassinado e esquartejado pela esposa. Poucos se lembram do nome dele. O que fica é o "dono da Yoki".

Pois é. Temos rótulos e eles é que se tornam importantes. Nós, como indivíduos, desaparecemos. Quem não tem rótulo, então...

Outro dia, numa conversa com pessoas de várias idades, após um gole de cerveja, um jovem comentou que não entendia por que as meninas se apaixonavam por idiotas (rótulo). Ué, simplesmente o suposto idiota tem coisas a oferecer! Para as meninas, o rótulo não é o de idiota. Afinal, as pessoas são classificadas pelas suas habilidades úteis, pelo que fazem para satisfazer as necessidades... dos outros. Quem você é "por dentro" não tem valor, ainda que muitos rótulos sejam formados em cima de pensamentos manifestados, como ter um sentimento piedoso por pessoas pobres, até com boas intenções: "Saibam que estão nos meus pensamentos!". Só que não se faz nada além de pensar. Mas fica como "por dentro ele é gente muito boa!".

Existe muita luta para se construir um rótulo, hoje mais difícil no Brasil: o da exclusividade, que é um tipo de segregação econômica e social. Que graça existe em ter alguma coisa que o vizinho também tem? A medíocre socialite Danuza Leão, a representante da classe rica que se revoltou com os direitos adquiridos pelas domésticas,  diz que é impossível viver sem luxo, que é uma exclusividade, mas há um problema: "Como se diferenciar do resto da humanidade, se todos têm acesso a absolutamente tudo, pagando módicas prestações mensais?". "Enfrentar 12 horas de avião para Paris e encontrar vendedoras falando português? Melhor ficar aqui mesmo". Ir a Nova York já teve sua graça, mas, agora, o porteiro do prédio também pode ir, então qual a graça?”. A Danuza hoje está com sérias dificuldades financeiras.

Os "revoltados" com a PEC das Domésticas têm argumentos análogos aos dos escravocratas: se os negros fossem libertados, seriam os principais prejudicados porque não conseguiriam se sustentar sem a “proteção” do senhor de escravos. Com a PEC, haveria desemprego e as empregadas perderiam a "proteção" das patroas. Gente bondosa "por dentro".

Conheci um sujeito que, qualquer que fosse o assunto, começava com algo como "Outro dia eu estava com o diretor da empresa "X"...", ou, "com o irmão do deputado tal", ou "eu estava tomando um vinho com o dono da empresa "Y"..." Puro rótulo para a pessoa referida (diretor, irmão do deputado, dono da empresa, etc.) e demonstração de exclusividade, de prestígio para si. Afinal, esteve com gente importante. Provavelmente quem está lendo isto se lembre de alguém que age dessa forma.

Pessoas assim têm medo de parecer pobre. Então, pagar caro pelas coisas já os torna exclusivos. É sinônimo de "eu posso!". As empresas colocam os rótulos "gourmet" (até em pizza de frango, pipoca)  ou "premium", ou "top", ou "premier", e cobram o dobro. O cliente paga e se diferencia pela "exclusividade". Nos EUA, a Budweiser é das mais baratas. Aqui é "premium". E os que procuram exclusividade exibem marcas como enfeites de árvore de Natal.

Todos temos rótulos. A maioria deles feitos pelos outros. Somos rotulados, acima de qualquer qualidade, pela nossa aparência e por nossos defeitos. Sem direito de defesa. Acabamos tendo dupla identidade: a nossa e a identidade que os outros nos dão.

"Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu, mas artigo industrial, peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é coisa." (Eu, etiquetade Carlos Drummond de Andrade, que pode ser lido em: angeloroman.blogspot.com.br)


Ângelo E. Roman - angeloroman@terra.com.br

No jornal: http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=62715&Not=Qual%20%C3%A9%20o%20seu%20r%C3%B3tulo?

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

EU, ETIQUETA

Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo ou de cartório, um nome... estranho. 

Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro que não fumo, até hoje não fumei. 
Minhas meias falam de produto que nunca experimentei mas são comunicados a meus pés. 
Meu tênis é proclama colorido de alguma coisa não provada por este provador de longa idade. 

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidência, costume, hábito, premência, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. 

Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade, trocá-la por mil, açambarcando todas as marcas registradas, todos os logotipos do mercado. 

Com que inocência demito-me de ser eu que antes era e me sabia tão diverso de outros, tão mim mesmo, ser pensante, sentinte e solidário com outros seres diversos e conscientes de sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio,ora vulgar ora bizarro, em língua nacional ou em qualquer língua (qualquer, principalmente). 

E nisto me comparo, tiro glória de minha anulação. Não sou - vê lá - anúncio contratado. 
Eu é que mimosamente pago para anunciar, para vender em bares festas praias pérgulas piscinas, e bem à vista exibo esta etiqueta global no corpo que desiste de ser veste e sandália de uma essência tão viva, independente, que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, minhas idiossincrasias tão pessoais, tão minhas que no rosto se espelhavam e cada gesto, cada olhar cada vinco da roupa sou gravado de forma universal, saio da estamparia, não de casa, da vitrine me tiram, recolocam, objeto pulsante mas objeto que se oferece como signo de outros objetos estáticos, tarifados.

 Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu, mas artigo industrial, peço que meu nome retifiquem. 

Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente.

(Carlos Drummond de Andrade)


sábado, 6 de dezembro de 2014

FILHOS PARA O MUNDO OU PARA O MERCADO?

A propaganda de um colégio muito conceituado em Curitiba me assustou: anunciava que preparava os alunos para o vestibular e para o mercado de trabalho. Colocar seu filho, jovem, para ser um fornecedor de mão de obra que o processo produtivo exige é doído. Em muitos casos, os jovens não recebem formação humanista. Só técnica.

Será por esse tal mercado de trabalho que são comuns profissionais mal humorados, médicos que tratam mal seus pacientes, não comparecem ao trabalho (mas recebem o salário), advogados que ficam com o dinheiro de seus clientes, administradores que humilham subordinados, e por aí afora?

Formar para o mundo do trabalho é diferente: capacitar a viver de forma cooperativa e útil à sociedade. Felizmente ainda há escolas que priorizam isso. O aluno recebe formação humanística junto com a técnica. Passa nos vestibulares sem ter estudado (robotizado) especificamente para isso. Tornam-se excelentes profissionais. Tudo pela bagagem abrangente de conhecimento que adquirem.

Aí surge a dicotomia: vocação e profissão. São diferentes. Na vocação, baseada no coração, a pessoa é feliz na própria ação. Na profissão, baseada no pensamento, o prazer está no ganho financeiro daquilo que se faz. Também, uma pessoa pode ter um trabalho como necessidade profissional e realizar sua vocação, por exemplo, fotografando, ou fazendo outra atividade,  nos finais de semana ou em horas de folga. Ou realizar a vocação num trabalho voluntário.

Claro, todas as vocações podem se transformar em profissões. Quando trabalhamos em algo que verdadeiramente tem a ver com nossa vocação, ficamos bem. Quando não, ficamos irritados, de mau humor, entediados.

Há uma luta atual que afeta nosso futuro: políticos por vocação versus políticos por profissão. Antes do golpe militar, vereador não tinha salário. Cidadãos dedicavam parte de seu tempo trabalhando pela comunidade, e exercendo sua profissão normalmente. Para conquistar apoios, os ditadores criaram o salário. Entraram os políticos profissionais. A coisa só piorou de lá pra cá. No âmbito federal, teremos, a partir do ano que vem, o pior Congresso em muitos anos. Cheio de profissionais. Apenas alguns vocacionados.

O professor norte-americano Mark Albion divulgou uma pesquisa que mostra a importância do respeito à vocação e aos valores nas escolhas que uma pessoa faz ao longo da carreira. Pesquisou 1.500 profissionais que haviam concluído o Master in Business Administration (MBA) nas melhores escolas americanas. Deles, 83% buscavam realização financeira. Os outros 17% estavam interessados em atender à sua vocação, que era definida por eles como "algo que me dê prazer, satisfação, que eu goste de fazer".

Vinte anos depois, Albion foi verificar como estava a carreira desses profissionais. Do total, 102 haviam alcançado imenso sucesso em suas carreiras, inclusive financeiramente. Desses, 101 pertenciam ao grupo dos 17%, aqueles que miraram no prazer e acertaram na vocação. Apenas um pertencia ao grupo que fez sua escolha orientada pelo dinheiro.

A palavra vocação vem do latim “vocare” (chamar). A escuta da vocação é difícil, por causa de opções mais glamourosas, ou “da moda”: medicina, engenharia, computação, direito, publicidade. Todas elas, legítimas, se forem vocação.  

Deve-se optar por uma profissão não pelo seu prestígio social, mas por ser sua preferida. Todavia, se um filho diz que quer ser professor, profissão importantíssima e ao mesmo tempo desvalorizada, muitas vezes causa apreensão nos pais. Procuram fazê-lo mudar de ideia. Seria o caso, diante das péssimas condições salarial e de trabalho vivenciadas pelos professores, que se deixasse de lado a ideia de sacerdócio e se adotasse a de profissional? Se professor fosse tratado como um profissional e não como um sacerdote, como é propagado, seria melhor para eles, mestres, e para os alunos?

"Escolha um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia em sua vida". (Confúcio).