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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A TÊNUE FRONTEIRA ENTRE “HOMENS DE BEM” E BANDIDOS

Fui ao barbeiro cortar o cabelo. Ele contou uma história acontecida na semana, em frente à barbearia, num ponto de ônibus.

Dois sujeitos conversavam sobre assaltar um supermercado próximo. Alto, todos ouvindo. Um dos ouvintes era um policial a paisana. O barbeiro fez questão de falar o nome do policial, orgulhoso por conhecê-lo. Ao ouvir falar sobre o suposto assalto, o policial sacou a arma e apontou-a para um dos “assaltantes”.  O sujeito correu, o policial atirou e o baleado caiu no meio da rua, com dois tiros nas costas. O policial se aproximou, todos vendo, mirou na cabeça do homem deitado e atirou. Nessa hora, o barbeiro parou de cortar meu cabelo e mostrou como o policial fez. Perguntei sobre o outro suposto assaltante. Me respondeu que o outro havia ido a um terreno vizinho urinar e, quando viu o amigo  baleado, gritou “Não me mate, não me mate!”. Esse só levou uma camaçada de pau.

Que história mais inverossímil! Atirar em alguém por causa da tal conversa. Bem, o policial foi aplaudido. Eu me indignei com isso, quando um cliente que estava esperando a vez contou outra história.

No dia anterior tinha ido pegar um filho, de 18 anos, que o esperava no Batel, aonde havia ido pegar um material para seu curso na Federal. Chegando, viu ao longe o filho encostado numa parede, pernas abertas, mãos para cima. Um dos policiais o revistava. O outro estava  com um revólver encostado na cabeça do garoto. O pai ficou desesperado, e apenas pôde ver os policiais terminando o “serviço” e indo embora. Não deu nem pra falar com eles. O filho, resignado, apenas disse que isso acontece sempre. Ele tem a pele amorenada. Não é incomum uma arma nessa situação disparar.

Voltando pra casa, li sobre a abordagem policial a três músicos (dois negros e um branco) que cantavam num ônibus, aqui em Curitiba. Foram algemados [os negros], humilhados e tratados com uma violência descomunal, com choques elétricos e todo o arsenal de crueldade, prática comum quando se trata de lidar com os mais pobres. Tudo isso contra jovens que cometeram o terrível crime de tocar suas músicas dentro de um ônibus (muito aplaudidos pelos usuários do transporte, inclusive).” O branco, que portava “a arma do crime” (um violão), foi ignorado. Teve que dizer que estava com os outros para ir junto à delegacia.

Me lembro de vários casos de abordagem policial a jovens inocentes (filhos de conhecidos meus morreram assim), que resultam em morte “acidental”, ou “pensamos que ia sacar uma arma”, “estava armado”, “apenas nos defendemos”, etc. E a coisa está piorando. Por quê? Porque não há punição, e, pelo aplauso da população favorável ao “bandido bom é bandido morto”, como no caso narrado pelo barbeiro. Avalizam isso também os raivosos que saem em manifestações xingando, agredindo fisicamente quem pensa diferente ou usa uma camiseta de cor “suspeita”.  Hoje, o suposto ladrão no ponto de ônibus. Amanhã, nossos filhos, nossos vizinhos, voltando da faculdade ou do trabalho.

Só nós podemos mudar isso. Temos um judiciário de alto escalão que protege os poderosos. Isso também é violência. Temos uma Assembleia de baixíssimo nível, a exemplo do Congresso, mas pior. Políticos corruptos são reeleitos, polícia bate em professores por ordem superior, agride cidadãos.

Como mudar? Parar de seguir ordens de sair às ruas com o monocórdio impeachment e direcionar para o que realmente nos consome. Felizmente, boa parte está acordando para isso. Os manifestantes seguem como cordeiros um adolescente descocado (que tem pauta danosa, desconhecida por eles) e uma imprensa a serviço de pessoas perniciosas. Um dos homens mais corruptos do Brasil, Eduardo Cunha, é poupado e até elogiado. Dilma mostrou-se incompetente, não corrupta. Até políticos de baixo nível do PSDB e DEM reconhecem a integridade dela. Por que preservar Cunha? Alguém se revoltou com o STF ter adiado para fevereiro o julgamento do pedido legítimo de afastamento do capo? Os nobres ministros não poderiam ter adiado suas longas férias por um ou dois dias para resolver algo que está paralisando o País?

Houve três recursos no STF sobre os procedimentos adotados por Cunha. Um caiu nas mãos de Gilmar Mendes. Indeferido. Outro, na caneta de Celso de Melo. Engavetado. Outro, para Fachin, que acolheu e pediu manifestação da Procuradoria Geral, para a Câmara dos deputados.... Estudou o assunto, relatou o processo e pôs pra julgamento. Exposto o relatório, a imprensa e os comentaristas “políticos” (até cineasta fracassado é comentarista político) elogiaram o relatório. Concorde-se ou não com Fachin, ele não engavetou. Estudou e tomou uma posição. O relatório foi contestado em quatro pontos por contrariar decisões já tomadas pelo mesmo STF por ocasião do impeachment de Collor.   Fachin foi massacrado pelos monomaníacos de sempre quando foi escolhido para ministro, por “ser Dilmista”. Quando fez o relatório, virou herói. Quando foram contestados os quatro pontos, virou herói-vítima. E esse povo vota!

Aos grandes bandidos de paletó e gravata não se pede a morte. São até idolatrados. Quando vão à Justiça normalmente é por iniciativa de outros países. Mas daí acontecem os típicos engavetamentos.  Mais uma seletividade danosa.

Sofremos violência de todos os lados. Em todos os níveis. Se tivéssemos um Judiciário melhor, tudo seria diferente. Nele reside o problema.

Os autodenominados “homens de bem” são um perigo. No Facebook eles põem as ideias que lhes impuseram e acreditam serem suas, afirmando que os “homens de bem” pensam daquele jeito. E agridem quem pensa diferente.

Os policiais assassinos são “homens de bem”? Deputados que apoiam Cunha são "homens de bem"?

domingo, 22 de novembro de 2015

ESTADO ISLÂMICO NO BRASIL

O Estado Islâmico (ISIS, na Europa) é o assunto do momento no mundo todo. Foi gestado pelos Estados Unidos e agora comete barbáries como a que vimos há dias em Paris. Alguns dados, que em nada minimiza o ataque cruel:

- o EI detém 60% da produção de petróleo da Síria e controla campos no Iraque. Só faz negócios a dinheiro. Assim, não dá pra rastrear nem bloquear contas, como foi feito com a Al Qaeda.

- Em seus domínios, cristãos pagam a jyzia, taxa para não serem mortos por não serem muçulmanos.

- Cobra impostos nas cidades sob seu domínio.

-  Para eles, morrer lutando contra os infiéis é caminho certo para o paraíso. Lá poderão fazer coisas proibidas na terra, como fartar-se de carne e deliciar-se com virgens e mancebos eternamente jovens. A virgindade se renova a cada ato sexual e o pênis nunca esmorece.

- Os “soldados” do EI são jovens. Eles atacam nos ocidentais aquilo que mais os atrai. Odeiam querer ser fúteis e hedonistas. Matam nos outros aquilo que querem matar dentro de si (isso também acontece com essas pessoas que agridem e discursam contra homossexuais: nada mais do que matar nos outros o que não matam em si). A falta de perspectivas para os jovens, geralmente pobres e discriminados pela sociedade, leva-os ao EI.   Uma forma de dar sentido à vida é a imolação. Ainda mais com as promessas do paraíso. O tomar um chopinho na mesa de um bar na calçada, rir, ouvir uma banda de rock legal, uns amassos no escurinho provocam desejo reprimido... e morte.

Houve uma foto ridícula, logo depois do ataque ao Charlie Hebdo, de 40 líderes mundiais marchando de braços dados por Paris e prometendo prioridade para derrotar o ISIS. Entre os 40, vários terroristas, como o presidente dos Estados Unidos, o maior grupo terrorista do mundo. A promessa morreu assim que desataram os braços.

Homem-bomba pode aparecer em qualquer lugar, em qualquer momento. Em Nova Iorque, Paris, São Paulo, Curitiba... Não há o que fazer pra se defender. O EI tem os homens-bomba, os EUA têm os drones matando inocentes no Paquistão, na Somália, no Yemen... Milhares assassinados. Os drones podem ir para o Brasil se o Serra não conseguir cumprir a velha promessa de passar o Pré-sal para domínio dos EUA (a promessa está documentada no Wikileaks) e se o Aquífero Guarani não for privatizado.

A imprensa pouco ou nada fala de um grupo, o Boko Haram. Esse grupo mata mais do que o EI. Para o Boko, os culpados dos males do mundo são os cristãos. Seus “soldados” matam populações inteiras. Meninas de 7 a 15 anos são levadas e liberadas para a população estuprá-las até resolverem virar muçulmanas. Os “soldados” entram nas casas e vão degolando as pessoas. Mas só atacam na Nigéria e matam negros. Então, nada se fala. Nada de indignação.  Se o Boko Harum for pra França, vira um deus-nos-acuda.

Esses dois grupos, e mais outros de menor expressão, trabalham a RELIGIOSIDADE das pessoas. Como os bispos milionários fazem no Brasil. Como os religiosos pedófilos. Como o pastor que dizia para as fiéis que tinha o pênis abençoado. Como essas pessoas que postam acusações sem verificar a veracidade, ofendem, depois vão à igreja rezar, ou se olhar no espelho em casa, e se sentem os melhores do mundo. Religiosidade é fácil. E fácil de manipular. Difícil é a ESPIRITUALIDADE, que poucos têm. Procuro o caminho dela há anos e não achei ainda. A propósito, os bispos evangélicos estão entre os mais ricos do País. De onde vem o dinheiro? Afinal, os fiéis doam para a igreja, não para a pessoa física do pastor.

Aqui na Espanha, o Presidente do Governo aparece a cada pouco na televisão mostrando os cuidados que está tendo com possíveis ataques terroristas, ao mesmo tempo em que provoca dizendo que vai apoiar os ataques a eles. O país está no nível 4 de alerta (num um máximo de 5). A cada ano com menos eleitores, agora tem a chance de recuperar votos para o seu partido nas eleições do mês que vem. Graças ao medo. O bipartidarismo de muitos anos (PP e PSOE) está, ou estava, acabando.

Pois bem. Estamos a um passo de termos equivalentes ao Estado Islâmico no Brasil. Os jovens quebrando vitrines, batendo em homossexuais, manifestantes em frente o Palácio do Planalto armados e anunciando derramamento de sangue (um atirou pra assustar mulheres negras que passavam fazendo manifestação), as agressões gratuitas nas redes sociais, os compartilhamentos de notícias falsas  (isso também é pecado, senhores religiosos!), os assassinatos e agressões físicas feitos por policiais, os movimentos contra o governo liderados por jovens descocados, sem a mínima consistência, os pastores pregando a intolerância, metidos em corrupção, a religiosidade exacerbada, a podridão nos três poderes (a pior, no Judiciário), isso tudo está nos levando a um caminho de terror.

Dias atrás, Suplicy e Haddad foram agredidos gratuitamente na Livraria Cultura. Haddad é novo na política, sem máculas. Suplicy tem uma carreira de quase 40 anos na política, sempre íntegro, honesto. Até pessoas do nível de Aécio, Richa, Ratinho, Maluf et caterva admitem que não há nada que manche a integridade do ex-Senador. É ódio produzido e distribuído gratuitamente para inocentes úteis.


Como se chamará no Brasil o irmão do Estado Islâmico?

domingo, 6 de setembro de 2015

PEQUENAS DOSES PARA A RAZÃO

- Os movimentos de rua têm líderes e patrocinadores. O principal líder é um adolescente descocado, o que resulta em participantes que dão vexame em entrevistas, que são agressivos, odientos. Os patrocinadores são: 1) os políticos que votam, entre outras coisas, contra a proibição da maior fonte de corrupção na política, que é o financiamento de empresas a campanhas políticas (DEM e PSDB votaram em bloco pra não proibir); 2) os grandes empresários envolvidos no escândalo do HSBC, na Operação Zelotes, Operação Satiagraha, Operação Radioatividade, Operação Castelo de Areia, e outras mais. Os processos não andam, são engavetados, cancelados, enrolados; 3) os altos sonegadores de impostos; 4) os especuladores. Os participantes são meros inocentes úteis atrás da cenoura do impeachment.

- Manifestações populares são a grande força de um povo. Nós poderíamos mudar o Brasil se fizéssemos movimentos com foco, com honestidade, atacando a origem dos problemas. Principalmente, sabendo por que está se revoltando e não falando babaquices. O governo está perdido, fraco. Fraco principalmente por ter se afastado de quem o colocou lá. Fez melhoras substanciais, mudou a estrutura econômica do País, mais de 40 milhões de trabalhadores se tornaram consumidores regulares. Aumentou as reservas, com Lula construiu 14 universidades, etc. Mas se perdeu. É preciso muita má vontade ou desonestidade intelectual não reconhecer os avanços. Também é preciso o mesmo para não reconhecer que o governo foi vencido, está na lona.

- Em vez de cortar verbas da Educação, se o governo investisse em cima da sonegação, a situação se estabilizaria. Mas os sonegadores estão bem representados no Congresso, no Judiciário, na mídia. Imunes. Enquanto isso, a classe média e a pobre sustentam o País com seus impostos.

- A CPMF é o imposto mais justo que poderíamos ter. Quem ganha mais, paga mais. Ao contrário dos demais impostos. Com a CPMF, os ricos teriam que, finalmente, pagar impostos sobre o que ganham, ainda que em percentual baixo. Daí, promovem a revolta contra. A classe média e a pobre entram na onda. Os ricos riem satisfeitos.
- Existem comparações interessantes. E honestas, principalmente. Em julho de 2002, a dívida líquida do setor público era de R$826,2 bilhões. Em julho de 2015, a dívida cresceu para R$1,9 trilhão.  Mais do dobro. No facebook, muitas postagens agressivas com “esse governo”, “esses petralhas”, “governo comunista”, etc. Como é conveniente, não se publicou na mídia (e os facebookianos não pesquisaram antes de publicar) o necessário e fundamental detalhe: em julho de 2002, a dívida representava 58,71% do PIB. Em julho de 2015, representava 34,2%.  O crescimento do PIB foi ignorado. A dívida diminuiu. 
- O orçamento apresentado pelo governo, com déficit de 0,5% do PIB, é realista. O Congresso compartilha a responsabilidade de realizar cortes ou aumento de impostos e tem que acabar com a farra do Cunha e seus asseclas, aprovando despesas e aumentos de mordomias fora da realidade. O QUE NÃO SE DIZ: no momento de crise mundial, mesmo as grande economias do mundo (França, Portugal, Holanda, EUA, Japão, Itália, etc.) têm déficit orçamentário. Em percentuais maiores que o Brasil. Déficit orçamentário é uma realidade mundial.
 - Houve reunião em São Paulo dos maiores empresários do País. Apresentaram três condições para apoiarem o governo federal. E ligaram pra Dilma no final da reunião. Cortar programas do governo está na pauta. Cobrar sonegadores, não. O governo Dilma optou por afagar os representantes do neoliberalismo, se afastando mais da população. Os juros altos deleitam os especuladores. Afaga, mas recebe chumbo.
- Desde a época da ditadura militar Álvaro Dias se ausenta de votações polêmicas ou comprometedoras. Viagens ou “problemas de saúde”. Basta procurar na internet e ver. A última foi na votação da proibição de financiamento empresarial a campanhas políticas.

- Odebrecht, com seu sorriso de deboche, foi tratado como um rei por seus súditos, de joelhos, na CPI da Petrobrás. Só faltou pedirem desculpas por ele ter sido convocado.
 “É mais fácil manipular aquele que se informa constantemente através da grande mídia do que os que não consomem nenhum tipo de produto midiático. Os primeiros são alienados, os últimos, ignorantes.” (Leonardo Oliveira)




domingo, 30 de agosto de 2015

VOCÊ É DE DIREITA OU DE ESQUERDA?

De direita, de esquerda, ou de nenhum dos dois, o fato é que existe um descontentamento com a situação econômica e moral que estamos vivendo.

Os de direita são burros? Os de esquerda são? De jeito nenhum! Eduardo Cunha, Caiado, Chico Buarque, Suplicy, Maluf, os generais torturadores, Niemeyer, Feliciano, Bolsonaro, José Dirceu, por exemplo, são pessoas inteligentes.

Alguns podem ser de direita ou de esquerda por convicção, sabendo o que é isso, outros por simples conveniência, oportunismo. Outros nem sabem o que é isso.

Os de esquerda prometem melhora no padrão de vida das pessoas, mais escolas gratuitas, saúde pública de qualidade. Alguns, esquerdas oportunistas,  “se esquecem” das promessas; outros tentam, mas só conseguem alguma coisa se seguirem o adágio “dar uma no cravo, outra na ferradura”: pobre melhora de vida, mas o poder econômico é poupado e ainda aumenta seu poder. O PT teve algumas ações que podem ser consideradas de esquerda no que diz respeito à melhora de vida dos pobres, da saúde pública, da Educação, etc. Pra isso, fez concessões à direita. Ou não conseguiria nada. Os bancos rolam de ganhar dinheiro (e tem gente que chama o governo de comunista!!!) e isso vai aumentar com a guinada pra direita que o governo deu.

Os de direita prometem segurança, melhora da produção, do ensino, da saúde. Para isso supostamente melhorar, privatizam tudo. E convencem seus eleitores de que o Estado é incompetente. Tudo tem que ficar na mão de empresários. A  Petrobrás, mesmo com seus problemas de corrupção desde antanho, só agora descobertos, teve seu valor aumentado em dez vezes nos últimos 12 anos e o lucro que é repassado ao governo é substancial. Quanto ao pré-sal, em 2014, foi arrecadado R$1,524 bilhão para a Educação. O PSDB tem dois projetos para tirar a obrigatoriedade de participação da Petrobrás no pré-sal. Assim, o dinheiro iria para os bolsos das multinacionais, principalmente norte-americanas. E ainda tem a campanha para a privatização, que faz parte da pauta dos organizadores das manifestações de rua. Qual a vantagem disso para o País? A Petrobrás tem que ser saneada, não vendida. Como também acontece em muitas empresas privadas.

O nosso governo não tem uma oposição com VALORES de oposição. Os opositores usam maquiagem de uma suposta democracia, enrolando-se na bandeira, se “indignando” com “isso que está aí”. Falta-lhes consistência, fundamentos, coerência. A linguagem deles cria mundos, fazendo de conta que representa mundos. 

Em nome da liberdade e da democracia, tivemos uma ditadura de mais de 20 anos, escondendo corrupção, prendendo  e matando opositores. Ver Agripino Maia, por exemplo, participando de passeatas contra a corrupção é uma ofensa à inteligência. Apoiou a ditadura, é acusado de corrupção e quer de volta os privilégios que tinha na época.

Esses dias eu comentei numa postagem a notícia de que a Polícia Federal do Paraná tinha um comitê pró-Aécio em suas instalações, conforme havia sido divulgado. Um amigo veio de sola: “Já vem você defendendo o PT!”. Puxa vida! Em vez de ficar indignado com o fato de delegados montarem um comitê informal, seja lá de que partido for, exercita o ódio que lhe foi pregado e traduz o absurdo da notícia como uma defesa ao PT. Que tem a ver? A atuação da PF fica comprometida. Daí, os vazamentos e investigações seletivas. Isso pode se virar contra nós mesmos, cidadãos comuns.

Os áulicos do que há de mais baixo no Brasil, que se dizem de direita, escrevem aquilo que faz o desprovido de discernimento pensar que é inteligente e sair papagaiando o que lê. Daí, aparecem os clichês e ideias fixas que não suportariam a um mínimo de raciocínio e análise.

A ideia de que a solução  para a corrupção endêmica  seja um impeachment evidencia o raso entendimento de seus pregadores quanto ao regime democrático no País. Além disso, é no Legislativo que estão os principais acusados de tirar proveito dos esquemas de corrupção. Por que eles não são, também, alvos dos protestos?  E o alto Judiciário, cada dia se afundando no lodo da corrupção, dos engavetamentos, da autoconcessão de mordomias? Há esperança para o Brasil com pregadores desse nível?

Pessoas como Gilmar Mendes e Eduardo Cunha ofendem e envergonham o País. Mas enquanto boa parte da população estiver sendo alimentada com o ódio cego, esses personagens são aplaudidos.  (“Somos milhões de Cunha”, por exemplo).

Nem esquerdistas nem direitistas convictos elegem um presidente, ou governador, ou deputado, ou senador, etc.  Aí entra a sedução da massa, fortemente feita pelos meios de comunicação. Que bom seria se as pessoas consultassem diversas fontes, dos diversos matizes antes de se posicionar e, principalmente, de postar alguma coisa nas redes sociais.

Saindo do confronto esquerda-direita, o grande desafio parece ser o que diz respeito aos que pensam e os que não pensam. Claro, cada um achando que quem não pensa é o outro.

 “O ser humano é inteligente por natureza e burro por influência”. Luan Teles


sábado, 15 de agosto de 2015

BATRACOTOXINAS

- O movimento contra mordomias e salários absurdos de vereadores surgiu espontaneamente, autêntico,  em cidades pequenas. Sem adolescentes descocados liderando. Quem sabe isso frutifique e surjam movimentos contra os aumentos absurdos de benefícios que o Legislativo e, principalmente, o Judiciário se autoaplicam a cada pouco. Os líderes adolescentes apenas movimentam para impeachment da presidente e apresentam uma pauta, desconhecida dos manifestantes, contra a população. O impeachment é somente a  cenoura.

- Um raciocínio lógico: a gente protesta contra algo que é DEFENDIDO por alguém. Por exemplo, protestar contra aumentos exorbitantes e concessão de benefícios abusivos a uma classe privilegiada, como os membros do Legislativo e do Judiciário. Já, protestar contra a corrupção, fazer abaixo-assinados pra isso é inócuo. A corrupção não é DEFENDIDA por ninguém. Até Agripino Maia e Aécio Neves, por exemplo, vociferam contra a corrupção. Não existe alguém que se manifeste a favor. Então, só há um lado. Não há oposição ao protesto. Deveria haver movimento contra o Judiciário que pune seletivamente os corruptos.

- Com a presidente nas cordas, Renan apresentou a “Agenda Brasil”. Entre as propostas está a simplificação de licenciamento ambiental (adeus florestas!), a mercantilização do SUS, com a cobrança de atendimento (isso é bem neoliberal, o que precisaria de alteração na Constituição), “aperfeiçoar” marco regulatório de concessões (pra voltar ao tempo do PSDB, com entrega de estatais a preço de banana e privatização de rodovias com os pedágios mais caros do mundo), “compatibilizar” as áreas indígenas com as “atividades produtivas”, etc.

- Cunha continua afundando o Brasil. Agora, mais R$10 bilhões de despesas extras. Jamais imaginei que veria algo tão baixo como “Se Cunha é contra Dilma, sou Cunha”. E o País, cara-pálida? Não percebe que o ódio cego te transforma num idiota-útil?

- A diferença entre o que a Veja publicou sobre a conta inexistente do Romário e o que ela publica contra os outros (no mesmo nível), é que Romário foi atrás. Afinal, é na Europa que os criminosos brasileiros são condenados. Aqui não. A revista também pode ser condenada por lá. Veja aposta na justiça brasileira, nos políticos e nos seus leitores acríticos.

- O CNJ foi acionado para questionar o juiz federal Ricardo Augusto Soares Leite, que conduz o processo da Operação Zelotes (roubo de 20 bilhões de reais). O magistrado tem conduta inadequada negando prisões, parando o monitoramento de e-mails e escutas telefônicas, e determinando sigilo para não “expor a intimidade” dos acusados. Todos poderosos. Esse é o nosso judiciário, em sua grande parte. O Paraná que o diga. O CNJ vai realmente atuar? Sei não. A grande mídia noticiou essa ação do CNJ?

- Procurador da República anuncia na TV que a corrupção na Petrobrás começou em 2003. Ignorância não é. Apenas faz discurso para os odientos. Ricardo Boechat ganhou o Prêmio Esso em 1989 por denunciar roubalheira na Petrobrás. O jornalista Paulo Francis já nos anos 90 denunciou a corrupção que corria solta na empresa. Tudo sem punição. Em 1997, Paulo Roberto Costa foi nomeado para cargo administrativo e foi quebrado o monopólio para entrega gradativa do petróleo aos norte-americanos. Depois, a Lei 9478/97 autorizou a Petrobrás a contratar sem licitação. Daí a vaca foi pro brejo.

- O Brasil tem 71,4  mil “cidadãos” com 21,7% da renda nacional (DECLARADA na Receita), renda mensal de R$341 mil. Dos bens do País declarados à receita, 29,4% pertence a eles. Pagam 5,5% de imposto sobre o total arrecadado. Em 2013 embolsaram 200 bilhões de reais sem pagar NADA de Imposto de Renda. Quem está lendo este artigo, com certeza paga, e muito. Esses “cidadãos” financiam Cunha e seus asseclas para não aprovarem nada que os faça pagar impostos. A classe média e pobre votam em grandes empresários e fazendeiros para compor o Congresso. Dá nisso. Há várias propostas do Executivo para mudar a taxação, mas o Congresso bloqueia. Bom lembrar que o Paraná tem 9 deputados federais que seguem Cunha. Deverão ser reeleitos.

- A Europa está em crise. O que nos ajuda são as reservas. No governo Itamar era de US$38,8 bilhões; FHC US$37,8 bilhões (diminuiu, mesmo com a venda de estatais e ainda ficamos sob a batuta do FMI); Dilma US$370,2 bilhões.

- Arthur Sendas, Roger Agnelli, Fábio Colletti e Jorge Gerdau Johannpeter são grandes empresários, componentes do Conselho de Administração da Petrobrás que aprovou a compra da refinaria de Pasadena pela Petrobrás, com base em relatório de Nestor Ceveró, que omitiu duas cláusulas importantes do contrato (Merlin e Put Option). Os empresários não são citados pela imprensa. Só a Presidente.

- Senador Mauro Couto, do PSDB, fala de dedo em riste, defende o impeachment. Tem 11 processos de  fraude. Não tem currículo. Tem ficha corrida. A tranquilidade lhe é dada pela imunidade que o seu partido tem na justiça e na PF.


- Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) aprovaram na quarta-feira (12) uma proposta que aumenta  seus próprios vencimentos em 16,38%. Também, sugeriram um reajuste que varia de 16,5% a 41,47% para os servidores do Judiciário.

O governo está de joelhos, se distanciando do povo, pedindo bênção aos neoliberais, que querem voltar ao poder. Coisa pior não há. O limite da insanidade foi atingido?

sábado, 8 de agosto de 2015

DROPES AMARGOS


- Numa grande empresa, um dos sócios, Brederodes,  resolve reformar o prédio da organização, comprar móveis novos, aumentar substancialmente o salário de seus colaboradores, demite homossexuais, convence a assembleia de acionistas a vender para estrangeiros uma das subsidiárias que mais rendem e promove a venda de ações da holding de forma a passar o controle para empresas estrangeiras “para ficar mais rentável”. Duas vezes por semana promove um culto evangélico, para mostrar sua estreita ligação com o Todo-Poderoso. Ameaça o sócio-presidente de retaliações caso a comissão nomeada para apurar denúncias de corrupção em sua área não pare as investigações. Vai acabar com a empresa. Deixá-la em pedaços para entregá-la a quem pagar melhor seu soldo pelo “trabalho”.

Bem, isso é o que está acontecendo no Brasil. Eduardo Cunha é o Brederodes. Duro é que a plateia aplaude. O ódio disseminado, com muita competência, cegou boa parte da população, que não vê e contribui para o País ir pro buraco.

- Se em vez de cortes que faz, o governo fosse atrás dos grandes sonegadores (por exemplo, o pessoal dos depósitos no HSBC, que  já sumiram da imprensa e da justiça), seríamos poupados de dificuldades. Mas quem mexe com eles?

- Velhos amigos, amigos velhos, velhos colegas, colegas velhos, velhos conhecidos, conhecidos velhos, adolescentes inconsequentes postam “notícias” sem qualquer verificação da veracidade. Seguem os manadeiros desocupados, líderes dos movimentos, e participam de manifestações de rua sem saber qual a pauta dos organizadores. A isca é o impeachment. E   lá vai a manada! Se lessem a pauta...

- Ninguém nega que o PT traiu seus princípios, está perdido, mas a presidente não tem qualquer envolvimento pessoal com a corrupção, mesmo com o esforço hercúleo da oposição, de membros do MP e do Judiciário. Ela sair resolve os problemas do País? Não, não resolve! Como estamos vendo com o arremedo de parlamentarismo que estamos vivendo, a Presidente tem pouca influência em muitos dos problemas de que as pessoas reclamam. Se os impostos são injustos (e como são!), a culpa é do Congresso. Corrupção? Foi avalizada pelo legislativo a doação de empresas a campanhas políticas, o maior foco de corrupção do País. Qualquer possibilidade pós-Dilma seria muito pior. A manada insipiente segue em sua marcha.

- A corrupção no âmbito federal é maior que nos Estados? Cadê o Paraná?

- O Jornal Nacional deitou e rolou um tempão em cima da prisão do já presidiário José Dirceu, que não é nenhum santo. A galera aplaude.  Só que o Cunha está indo pro esquecimento, como aconteceu com o Mensalão do PSDB, o Mensalão do DEM, o Cachoeira, o Daniel Dantas. A galera se cala.

- As velhas publicações como supressão do 13º salário, auxílio-reclusão, bolsa-prostituta e outras do mesmo nível voltam a cada pouco. Pessoas supostamente cultas, como professores, administradores, jornalistas, etc. propagam nas redes sociais. Sem o mínimo de vergonha. Alguns já se aposentaram, mas aposentaram o cérebro também. Sem qualquer má-fé.

- O BSI, banco suíço onde supostamente Romário tinha conta secreta, atestou que o extrato “denunciado” por Veja era falso. Nas vésperas das eleições, a revista também publicou o “Eles sabiam”, “notícia” da capa. O padrão-Veja continua no nível de latrina. Ela sabe que seus leitores não checam, não refletem sobre o que leem, e usa linguagem bem simples e adequada ao perfil deles. Se a revista defende Cunha, Aécio, Agripino Maia, Ronaldo Caiado, Gilmar Mendes, Cachoeira, Daniel Dantas é incrível ter leitores, e ainda supostamente escolarizados.  O deus dos inocentes-úteis, Reinaldo Azevedo, defende Beto Richa de uma forma que nem vale a pena comentar.

- O TJ-PR suspendeu investigação da Operação Voldemort, que trata do esquema de fraude em licitações na prestação de serviços ao Estado do Paraná, comandada pelo primo do governador. A justificativa da suspensão é a suposta investigação da secretária de Administração e Previdência, que tem foro privilegiado. Só que ela... não é investigada. O juiz de primeiro grau não determinou nenhuma medida que atingisse a secretária. Mas isso não importa. A manada nada vê. Está ocupada preparando as camisas para manifestações pelo impeachment... da presidente. Do governador? Ora, os manadeiros não deram essa ordem.

- Janot  foi o mais votado em lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República,que vai para a Presidente. Por tradição, iniciada por Lula, o mais votado é o escolhido. Depois, vai para a CCJ do Senado (dos 27 titulares, 8 são investigados na Lava Jato). Se aprovado, vai pro plenário.  Cunha ameaçou a Presidente se indicasse Janot. Vamos ver se ela vai amarelar. Ele ameaçou a ministra Rosa Weber, do STF, ela ficou quietinha, e a sentença, não necessariamente por isso, saiu como ele queria.

- “Derrota do governo” significa vitória pessoal de Cunha e seus asseclas. Deveria ser “derrota do País”.

- Se você se revoltar com a seletividade no Judiciário, no MP, na PF, seu ouvinte vai chamá-lo de “petista”. Ou seja, se quiser igualdade, honestidade, se questionar fatos você é “petista”. Isso hoje é elogio. Quem é submisso intelectual do Reinaldo Azevedo usa o “petralha”.

- Se algum amigo diz que o País está “virando comunista”, apenas tenha dó. Ele não tem a mínima noção do que é comunismo e é só mais um inocente-útil.

 - O  Brasil está numa situação de suicídio coletivo.

sábado, 25 de julho de 2015

QUAL É A MÚSICA NAS ELEIÇÕES?


Nas eleições americanas, o Facebook, pelos milhões de dados que tem dos usuários, traçou um mapa de gosto musical em função da orientação política da população. Baseado, portanto, em dados concretos. Beatles, Pink Floyd, Bob Marley, por exemplo, têm preferência nos eleitores democratas. Lynyrd Skyrnyd, George Strait, Ted Nugent, dos republicanos. Preferência dos dois: Elvis, Bon Jovi, AC/DC.

No Brasil seria flagrante a diferença de gostos musicais, em função das preferências ou convicções políticas. Principalmente das convicções.
 
Há quem afirme que música não é apenas um gosto, mas ela retrata o nível cultural e atitude na vida da pessoa. Talvez possamos dizer que as músicas atemporais, que não são modismos, são as de qualidade. Elas permanecem. As da moda entram e saem rapidamente. As gravadoras determinam o que vai ser sucesso e por quanto tempo. Analogia: a mídia determina o que a população deve criticar, contra o que deve fazer manifestação, o que deve pensar, sem qualquer reflexão. Pior: em ambos os casos, as pessoas acham que é opção delas próprias.

A anulação do senso crítico musical anula também o senso crítico do nosso dia a dia? Com o “eu quero tchu, eu quero tcha, eu quero tchu tchá tchu tchá tchu tchá!” elegem-se Justus, Romanelli, Ratinho e demais membros da Bancada do Camburão no Paraná, Maluf, Richa, Cunha, Calheiros, etc.?  O “É nóis fazer parapapá, parapapá, parapapá, garrar, beijar, fazer parapapá” reelege esses políticos? Uns acham que sim. Vide o levantamento do Facebook. Outros acham que não tem a ver.

Esses levantamentos explicam a ocorrência de frequência de eventos. Não são absolutos. Assim, há pessoas com senso crítico baixo com relação a questões políticas, mas com gosto musical muito além dos modismos. A recíproca já é mais difícil, mas acontece.

Olhei algumas letras das 100 músicas mais ouvidas pelo Spotify em Curitiba. Vi um vídeo também. Os cantores fazem movimentos eróticos com os quadris. Na hora do “vem, vem, vem, vem, vem” os movimentos continuam, com a mão simulando uma masturbação. As meninas, bem vestidas e maquiadas, pulam e gritam.

As letras são machistas:  “A mulherada louca já perderam(sic) a noção, traga meia dúzia de pinga com limão”, “Hoje é só farra, pinga e foguete”, “Ela vira um grude nem dá pra arrumar uma briga. Não vai ter jeito de levar ninguém pra cama. Mas dá vontade de um `trenzinho´ diferente”, “Me vê com outra, beijando na boca. Foi barraco aquele rolo, lavação de roupa”, “Ela é maluca, é linda e sabe que é gostosa. É superpoderosa, ela sabe que leva qualquer homem pra cama  (depois sugere que ela leve 5 amigas para um encontro)”,  “Eu não dou mole não, eu jogo ela nos meus braços. Grudo ela no peito e tá feito um regaço”, “Foi pra noite, perdeu a linha. Solteira de carteirinha”, “Agarrei no seu cabelo e te dei um abraço. E falei baixinho no seu ouvidinho. Vamos lá pra casa que eu faço gostosinho”. Machismo puro, mulher-objeto. A galera feminina delira. Se os jovens ouvissem apenas em festas, pra dançar, ainda vá, junto com axés de dança da bundinha, da galinha, da poeira... Mas ouvem no dia a dia.

Nas baladas, a música é altíssima. Dúvida que tenho: a música é tocada tão alta, justamente porque as pessoas não têm o que conversar? Ou não conversam porque a música é alta? Como conseguem combinar um encontro pra se conhecerem melhor (além da imagem física)? Com mímica?

Tanta luta das mulheres de anos atrás para se livrarem do machismo, do preconceito, da submissão forçada. As moçoilas estão jogando isso no lixo: submissão consentida.

Meses atrás, participei de uma festa de confraternização. A música não era tão ruim (pelo meu gosto pessoal), mas o volume, insuportável. Impossível conversar. E era uma confraternização!

O professor Vladimir Safatle citou palavras de Marx num artigo: “A situação desesperadora da época em que vivo me enche de esperança”.  Na suposição de que situações aparentemente sem saída são apenas expressão de que finalmente  podemos começar a  nos livrar dos entulhos de nosso tempo. Também, e principalmente, no campo político.

Música pode explicar muita coisa. O Facebook que o diga.

Tomara que Marx esteja certo.


sábado, 18 de julho de 2015

GOSTO NÃO SE DISCUTE... MAS SE EDUCA

Dias atrás, no bar cheio, início da noite, eu, esposa e amigos tentávamos conversar, tomando uma cerveja gelada. O som e o ruído do bar não permitiam. Ouvia-se um arremedo de música, muito alta. As pessoas, tentando conversar, falavam alto e já estavam gritando, para suplantar o volume alto das caixas de som. Num quadradinho ao lado do caixa, um garoto de boné comandava o tocador de CD e escolhia as “músicas” tuc-tucs com as quais iria nos brindar. Em duas paredes, aparelhos de TV ligados. Não sei se estavam com som. Impossível perceber.

O que se via era as pessoas se aproximando dos ouvidos dos outros, ou chegando a cabeça no meio da mesa para tentar ser ouvido.  Outros, bebericando sua bebida, cada um com seu celular e os dedos ágeis sobre a tela.  De comum, apenas a mesa que, supostamente, os unia.

Percebia-se que ninguém se incomodava com aquela barulheira misturada a tuc-tucs, que, para o garoto, era música. O fato de se encostarem para conseguir ser ouvidos, sentir a respiração do outro na orelha talvez contribuísse para a aceitação daquela agressão sonora. Um sonômetro (medidor de níveis de intensidade sonora) naquele ambiente quebraria.

Pagamos a conta e saímos à procura de um lugar onde fosse possível conversar.

Me vieram algumas dúvidas: será que é pela dificuldade de serem ouvidas que as pessoas conversam via tecnologia?  Será que o meu gosto musical é ruim e não percebo? Será que querer conversar com amigos num bar, tomando uma cervejinha, sem estresse, sem ter que gritar é uma esquisitice? Será que o que eu considero música de gosto duvidoso agrada a maioria e eu preciso ser educado para entendê-la? Será que letras como "eu já te peguei e te fiz enlouquecer bará bará bará berê berê berê berê” e “lelek lek lek lek lek lek lek lek lek lek girando girando girando para o lado girando girando girando pro outro” provocam reflexões ou uma paz interior que não consigo alcançar?

A última dúvida me levou ao passado, tempo da faculdade, aula de Teoria da Literatura, profª. Edna. Ela nos ensinou que gosto não se discute... mas se educa. Não debatemos isso em sala. Ela queria que refletíssemos a respeito.

Tem tudo a ver. A preferência por música, pintura, teatro, programas de televisão, filmes, livros depende da educação, tanto a formal, escolar, quanto e, principalmente, a de berço. Não creio que se trate de uma ser melhor que a outra. Ninguém é uma pessoa melhor que a outra por seu gosto artístico. Aquele que gosta de sertanejo universitário pode achar que quem gosta de MPB tem mau gosto. E vice-versa. Cada um acha que tem bom gosto. Em programas de TV, tem gente que gostava de Provocações, programa da TV Cultura, outros de Praça da Alegria. Tem gente que gosta de museus, outro gosta de praças. 


Muito comum em clubes, lanchonetes e restaurantes é a televisão. As pessoas saem de casa com a família, e vão... assistir a programas de TV de que gostam. Quem, por acaso, quiser conversar com familiares e amigos tem que competir com o aparelho e falar bem alto.

Anos atrás fui conhecer uma academia de ginástica. Quem sabe me matricularia. Fiz aula experimental. Minha nossa! Havia som ambiente, altíssimo, tipo bate-estaca. Os professores tinham que gritar para passar as atividades. Quem vai lá com frequência deve melhorar a capacidade física e piorar a auditiva.  Os professores devem ficar com problemas nas cordas vocais. A recomendação da Psicologia do Esporte é que se ouça música de acordo com o tipo de exercício que se vai fazer. Na academia em que fui, a mesma música bate-estaca altíssima para pilates, musculação, esteira, spinning, calistenia, etc. Nunca mais!

Segundo a Revista Brasileira de Psicologia e Esporte, a música afeta o desempenho da pessoa nos exercícios. A ideia é sincronizar o ritmo do exercício com as batidas por minuto (bpm) da música. Assim, o desempenho melhora bastante. A cada tipo de atividade, música com  bpm  adequadas. Maior intensidade de exercícios: música  com 120 a 135 bpm; caminhada moderada: 115 a 125; caminhada leve: até 100 bpm. Há programas na internet que medem as bpm das músicas.

Bem, parece que existem músicas para cada ambiente, para cada estado de espírito. Num  escritório, trabalhando, vai bem música instrumental lenta. Numa festa, música rápida, cantada. Num encontro de dois entre quatro paredes, música romântica, lenta. Numa dança a dois, um bolero, uma balada, um samba. Numa dança grupal, ritmo predominando sobre a letra, um sambão ou, quem sabe um axé falando de poeira. 

Pois é. O gosto pelas coisas nos afeta e pode nos identificar, nos aproximar, nos distanciar. Mas a professora tinha razão.


sábado, 11 de julho de 2015

NÃO É...

...porque é preciso incrementar as receitas do País... QUE vamos aceitar aumento de impostos para quem já paga muito, em vez de se cobrar de quem não paga e se punir quem sonega;

...porque o Impostômetro (da Associação Comercial de São Paulo), exposto nas capitais, mostra arrecadação de R$1 trilhão até julho/15... QUE vamos ignorar que o Sonegômetro (do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional) aponta R$271 bilhões de sonegação (impune);

- porque as doações da UTC, da Lava Jato, foram maiores para o Aécio do que pra Dilma... QUE não vamos nos indignar com o fato de empresas poderem financiar campanhas políticas e o Congresso ter aprovado a inclusão desse “direito” na Constituição;

- porque os assassinados pela polícia ou pela população tenham cometido roubo... QUE vamos aplaudir a ação. Aconteceram três assassinatos de jovens filhos de colegas, cometidos pelos aplaudidos, “por engano”, “arma disparou acidentalmente”, “pensei que estava armado”, etc. Os aplausos de hoje podem ser uma arma contra nós mesmos;

- porque o Brasil teve o maior crescimento mundial do PIB entre 2000 e 2014 (103%, EUA 71%,  Alemanha 57% Japão, 50%), que a Itália teve encolhimento de 0,4% e o Japão crescimento zero em 2014... QUE vamos nos contentar com a retração neste ano;

- porque a Globo financiou a amante de FHC (quando senador), Miriam Dutra,  e o então filho dele... QUE vamos aceitar a Mendes Júnior financiar a amante, Mônica Veloso, e o filho de Renan Calheiros;

... porque FHC elevou os juros a 45% ao mês para satisfazer os especuladores que mandavam no Brasil através do FMI, e entregou o governo com a taxa de 25%...  QUE não podemos reclamar de agora estarem a 13,65%;

... porque os maiores escândalos de corrupção do Brasil foram no governo do PSDB... QUE temos que ficar quietos com a corrupção atual. Essa disputa de quem é o maior corrupto não leva a nada. Maior ou menor, todos TERIAM que ser punidos;

- porque as reservas internacionais hoje são de US$371.688 milhões, contra US$37 bilhões no final do governo peessedebista... QUE vamos aceitar sua redução, por menor que seja;

- porque temos índice baixo de desemprego comparado ao resto do mundo (4,3% em dezembro/14 contra 12,2% em dezembro/02)... QUE vamos assistir passivamente ao crescimento dessa taxa;

- porque o salário mínimo era de US$86,17 no final do governo FHC e em 2015, US$308,87... QUE vamos ser contra reajustes com ganhos reais;

- porque as concessões de rodovias que estão vencendo agora baixaram o preço do pedágio nas novas licitações (e ainda exigem das concessionárias investimentos para melhorias)... QUE vamos acreditar que a prorrogação das concessões das rodovias do Paraná pedida por Beto Richa vai proporcionar redução do preço. Hoje paga-se R$16,80 na BR277 (concessão de 1977), contra R$1,90 (concessão de 2007) na BR376/BR101, para andar a mesma distância;

- porque agora aparece corrupção na Petrobrás, existente há décadas... QUE vamos apoiar as duas propostas feitas no Senado por José Serra e Aloysio Nunes (ocultadas ou defendidas pela mídia serviçal) para entregar o Pré-sal para os norte-americanos;

- porque nos revoltamos com os corruptos vazados seletivamente pela Lava Jato... QUE vamos ignorar que as delações publicadas legalmente  incluem políticos da oposição, poupados pela imprensa e pelo Judiciário;
 
- porque os meios de comunicação estão utilizando, com muita competência, o emocional para impedir a análise racional, o que permite acesso ao inconsciente das pessoas para implantar ideias, ódio, medos e induzir comportamentos... QUE vamos nos deixar ser manipulados e nos conformar como se não fosse possível acabar com isso;

- porque eles utilizam linguagem de fácil compreensão, que sustenta pensamentos com os quais o leitor se identifica (daí ele se sente inteligente),... QUE vamos deixar de ler publicações de posições diferentes e  de sempre conferir a consistência dos argumentos.

A indignação é necessária, mas não pode ser manipulada nem seletiva.

“Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado; sem nenhum tempo para pensar; de volta à quinta com outros animais” (Armas silenciosas para guerras tranquilas).

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