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sábado, 27 de junho de 2015

CULPA DO GOVERNO

- É a Dilma, né?

Foi a resposta da dona de uma barraca na praia quando eu disse que havia subido muito o preço do que eu estava comprando.  Daí, o papo foi para impostos.

Um homem, sentado numa banqueta com um cachorrinho no colo me disse: “Eu tenho que pagar imposto pra comprar um carro, além do que já pago na compra”. Depois explicou: “Tenho um pró-labore da minha empresa no valor de R$4 mil. Oficialmente. Na verdade, pego de 20 a 25 mil. Agora quero comprar um carro Mercedes-Benz e não posso porque com a renda de R$4 mil não há como justificar. Então, tenho que pôr que ganho mais. Daí, pago imposto. Esse é o Brasil!”.

Isso dispensa comentários. Mas a conversa acabou caindo em impostos. Nós, consumidores, pagamos impostos sobre tudo o que compramos. Também pagamos INSS sobre nosso salário. PAGAMOS! Mas quem faz o recolhimento daquilo que pagamos é o comerciante, o patrão, a empresa, etc. É muito comum isso não ser recolhido. Muitas empresas reclamam que pagam muito imposto, mas quem paga somos nós. São, ou deveriam ser, repassadoras do dinheiro, mas ficam com ele. Elas têm os impostos dela, mas daí é outra coisa.

No caso da dona da barraca, ela repete o senso comum de que tudo é culpa do governo federal. No Paraná, por exemplo, o governo estadual aumentou em 50% o ICMS de 95 mil produtos e em 40% o IPVA. A revolta da população contra isso é conveniente e sutilmente direcionada para o governo federal.

Senso comum é o que as pessoas comuns usam no seu dia a dia, aquilo que é natural e fácil de entender, o que elas pensam (ou as fazem pensar) que sejam verdades.

Nem o petista mais ferrenho nega que o PT saiu dos trilhos. Mas é preciso ser honesto para se criticar. E, claro, estar bem informado.

Para o senso comum, é petista quem (qualquer dos itens):

- se indigna com a seletividade da Justiça, em julgamentos e engavetamentos;

 - diz que a corrupção na Petrobrás começou há muitos anos  e se institucionalizou fortemente com o Decreto nº2745/98, que desobrigou a empresa de fazer licitações;

- lembra que Paulo Roberto Costa foi nomeado em 1997 para cargo de confiança,  quando iniciou sua carreira de corrupto;

- expõe que a corrupção começou a ser combatida recentemente. Até 2002 não se apurava, não se denunciava. A Polícia Federal estava manietada;

- se indigna por tesoureiros de outros partidos que receberam doações (supostamente legais) das empreiteiras não estarem presos. Só o do PT. Isso qualquer pessoa medianamente informada sabe. Que se prendam todos!

- cobra punição aos criminosos maiores de 21 anos que estão soltos (Maluf, Daniel Dantas, Cachoeira, etc.) antes de pôr na cadeia menores pobres, com a redução da maioridade penal;

- com a redução penal, não haveria mudanças para os menores da classe média e alta que cometem crimes. Punição não tem a ver com idade, mas com classe social e partido político;

- é a favor de cotas para minorias raciais;

- quer que  a Petrobrás seja saneada, não vendida, nem “facilitada” para os norte-americanos, como prometeu Serra caso fosse eleito (vide Wikileaks);

- diz que o Islamismo, o Budismo e o Cristianismo pregam a paz, a ética, o respeito, a honestidade. Estado Islâmico, Eduardo Cunha, Marco Feliciano, os bispos evangélicos que enriquecem com a pobreza de seus seguidores, os padres pedófilos  são deturpações;

- é contra os absurdos privilégios que o Judiciário está se autoimplantando;

- não quer que o FMI volte a mandar no Brasil, como fez até 2005. O último empréstimo recebido foi de US$41,5 bilhões, em 2002, para o País fechar as contas. O dinheiro das privatizações já tinha evaporado. 

Esse suposto petista não é a favor do que agora está sendo visto no País, nem quer defender o partido, no qual pode nem ter votado. Apenas quer que as pessoas não sejam manipuladas e tenham visão do todo. Quer que todos criminosos sejam punidos.

Nós, cidadãos comuns, é que podemos melhorar o País. Começando com desenvolver a crítica fundamentada,  fugir de manipulações, ampliar a visão.

No jornal:
http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=66778&Not=CULPA%20DO%20GOVERNO

sábado, 20 de junho de 2015

SERENATA: MÁQUINA DO TEMPO

A idade vai avançando e a pessoa vai mudando, não só fisicamente. Muitas vezes se tornando ridícula. A memória começa a falhar, a pessoa quer dirigir e controlar os filhos adultos, ficar em festas até tarde, beber como se fosse jovem, dar bronca em todo mundo. Alguns se tornam velhos, outros, idosos. Repito o que já escrevi num artigo: O idoso vive COM as consequências dos desgastes do corpo e não APESAR delas. O velho sofre degeneração do espírito, o idoso não. No idoso, a alma não envelhece. “Quando você é idoso, sonha; quando é velho, apenas dorme.” No rosto do idoso, as rugas são bonitas, com marcas de sorriso, da alegria de viver. No do velho, as rugas não têm beleza. Estão com marcas de amargura.

Um velho, ou idoso, pode acreditar que o namorado da filha ou namorada do filho morre de amores por ele, de tantas gentilezas que recebe. Na primeira encrenca entre eles, o sogrão/sogrona  nunca mais os vê. Ele faz mágicas, todos aplaudem, mesmo percebendo o truque pelos movimentos lentos, pela demora em apresentar os resultados do ilusionismo. Quer tocar e cantar as músicas de seu tempo. Ninguém aguenta, mas às vezes consegue, com aplausos benevolentes. Quer contar histórias do passado, só porque, no seu tempo de criança, sem televisão, as famílias se reuniam à noite pra conversar. Agora se reúnem na frente da TV, ou no almoço de domingo, cada um com seu smartphone, com pouca conversa.

Depois de cortar a grama, regar as plantas, arrisca-se a fazer poesias, que nunca fez na juventude. Geralmente horrorosas. Alguns velhos sentem saudades da ditadura militar, ouvindo rádio AM, de pijama listrado, lembrando-se de privilégios que tinham e que acabaram. Saem em passeatas, se sentindo jovens, pensando numa coisa nobre, sem saber que os objetivos dos organizadores são muito diferentes. E danosos. Paqueram garotas que poderiam ser suas filhas... ou netas. Outros são velhos de cabeça, mesmo com pouca idade. 

Os velhos são um desastre na internet. Acreditam em tudo o que os outros postam. E compartilham com desastrosos comentários. Os idosos são cautelosos. Curtem a tecnologia, mas exercitam o bom senso.

Essas coisas me vieram à cabeça, depois que, semana passada ouvi, vindo da rua, uma linda música cantada, acompanhada de violões, violino e cavaquinho. Lindas vozes.
Fui dar uma espiada. Achei que fossem pessoas de idade cantando, mas eram jovens, moças e rapazes, que compunham um grupo com vocal e instrumental lindos, cantando no jardim de uma casa próxima. Uma janela se abriu e um casal apareceu. Era uma serenata que o marido havia encomendado para a esposa.

Em serenata, tocam-se músicas de amor, geralmente de tempos passados. Há músicas caipiras (não sertanejas) e de bandas de rock que poderiam ser tocadas numa serenata, mas o conjunto tocava músicas românticas antigas. Muito bem executadas pela garotada.

Viajei no tempo, até minha juventude. Cidade pequena do interior, aos sábados, depois da meia-noite, saíamos para serestas. Tocávamos músicas românticas dos anos 60. Um ou dois cantores, dois instrumentistas, alguns pretendentes das meninas visitadas, que solicitavam a serenata e iam junto.

Havia um código para as meninas, hoje mães ou avós, nos informarem que estavam ouvindo: acendiam e apagavam a luz do quarto. Como de costume, deixavam no alpendre, num cantinho conhecido, um ou mais pratos com salgadinhos ou doces, cobertos com guardanapos de pano. Mesmo que algum pai ciumento não gostasse, as mães das meninas eram parceiras das filhas. Os quitutes tinham as mãos delas.

Havia também visita a casas que não tinham garotas. Os donos eram casais jovens e faziam questão de que fôssemos lá. Se não fizessem questão, íamos do mesmo jeito. Esses abriam a porta logo de cara.  Daí, rolavam uísque e cerveja.

Com a formação de um conjunto (agora chamado de banda), passamos a tocar bailes aos sábados. As serenatas aconteciam quando não havia compromisso do conjunto.

A serenata, hoje uma coisa rara, mesmo no interior, me foi uma máquina do tempo e uma provocadora de reflexões.


O que falo sobre os de mais idade diz muito respeito a mim, que estou procurando e me esforçando para ser um idoso, não um velho. Com muitas escorregadelas. 

sábado, 13 de junho de 2015

GANÂNCIA, AMBIÇÃO, PARTILHA, PICARETAS

- “Gostei do palestrante! Muito bom. Nos fez tirar os sapatos, dançar, abraçar! Muito legal. Contou piadas que nos fez morrer de rir.”

Assisti a muitas palestras. Sempre perguntava pra alguém o que tinha achado. Poucos palestrantes haviam acrescentado alguma coisa à vida dos que os ouviram. Nada pro dia seguinte, a não ser a lembrança das boas piadas. Dias depois, nem isso. A parte lúdica é importante, desarma o espírito, mas, pra mim, não pode ser o foco, o destaque, a única lembrança que fica.

Vi picaretas, vi palestrantes de primeira. Eu sempre com papel e caneta para fazer anotações. Guardo-as e revejo de quando em quando.

Ontem Mário Cortella, palestrante que tem conteúdo, que faz as pessoas pensarem de forma leve, atrativa, estava num programa de televisão. Já assisti a duas palestras dele. 
O programa tratava de nossa vida nos anos 60. Cortella falou das roupas simples dessa época. Diferentes, coloridas, alegres. Me lembrei de que queríamos ser diferentes. Comprávamos o tecido e encomendávamos para costureira, ou mãe, ou irmã (camisas) ou alfaiates (calças). Ninguém queria se vestir igual ao outro. Nos anos 90, fui levar minha filha, então adolescente, a uma festa de jovens. Ela estava de preto. Lá chegando, vi trocentas garotas... de preto. Queriam ser iguais.

Cortella lembrou que aprendíamos a não deixar comida no prato. Nos servíamos do que iríamos comer. Jogar fora, nem pensar! E tínhamos que apagar a luz em cômodos que não estavam sendo utilizados. Puxa vida! Em casa era assim. Sem desperdícios.

Semana passada fui a uma pizzaria. Serviam em rodízio. Na mesa ao lado, um casal com a filha pequena. Observei que pegavam, para os três, todas as pizzas oferecidas. Não davam conta. Comiam um pedacinho, ou nem isso. As fatias iam se acumulando, esfriando. Daí eles as colocavam num “cemitério”, que se transformou numa torre de  pizzas. Tudo destinado ao lixo. Isso não é fartura. É desperdício. E de algo sagrado: comida. A filha vai sempre reproduzir isso. Há uma frase antiga que diz: “O mundo que vamos deixar para nossos filhos depende muito dos filhos que nós vamos deixar para o mundo.”

E o consumismo? Muitos têm e utilizam objetos pelos quais têm obsessão. Sair a passeio inclui comprar algo, ver vitrines.  Acabam sendo possuídos por aquilo de que são proprietários. São escravos de uma linda casa, um lindo carro, um objeto tecnológico. O estímulo ao consumismo acaba provocando a ganância (querer só para si, a qualquer custo), diferente de ambição (querer mais, mas em benefício de si e dos outros). A ganância leva ao estresse. Traz prazer passageiro. A pessoa nunca se satisfaz. O desejo de ter algo é substituído por outra coisa maior. Geralmente não essencial. Nem fundamental.

Essencial e fundamental são diferentes. Essencial é ter amizade, afetividade, fraternidade, amorosidade, espiritualidade e coisas que não podem faltar para se viver. Fundamental é aquilo que nos leva ao essencial. Por exemplo, o dinheiro não é essencial.  É fundamental. Dinheiro não compra amizade. “Tem gente tão pobre que a única coisa que tem é dinheiro”. Fundamental é como uma escada. Não se fica sobre ela, mas se utiliza para chegar a algum lugar. Até a uma vida simples.

Vida simples não é vida de carência. É ter só coisas que são úteis ou prazerosas, essenciais. Vida simples é aquela em que a gente tem suficiência de recursos para existir, prover o futuro e... partilhar.

O conhecido “Milagre da multiplicação” de Jesus foi, na verdade, o milagre da partilha. Ele não fez surgirem pães e peixes para milhares de pessoas, como nos ensinaram. O “Dai-lhes vós mesmos de comer” que Ele disse mobilizou todos a compartilharem o pouco que tinham. Pegaram um pouco de cada um e todos comeram. Ainda sobrou. Se Cristo fosse apenas dividir os 5 pães e 2 peixes que tinha às mãos não daria nem uma escama pra cada um.  Quando se partilha, todos têm; quando se divide, poucos têm. Essa é a lição.

Falta-nos escutar mais. O conselho de Rubem Alves cabe bem: Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir”.

Escutemos, por livros ou pela audição, os bons autores e palestrantes.


sábado, 6 de junho de 2015

PRIMEIRO OS “DE MAIOR”

Os maiores de idade Daniel Dantas, Maluf, Carli Filho (matou dois jovens, dirigindo bêbado a 167 km/h numa rua de Curitiba), Carlinhos Cachoeira, os deputados estaduais dos Diários Secretos, Bibinho, os assassinos e corruptos confessos, etc. não são presos, gozam de imunidade judiciária, com o beneplácito involuntário da população, que apenas se conforma e é direcionada para se indignar com outras coisas. Lembrando que os envolvidos no caso Diários Secretos estão exercendo mandato, agora participantes da Bancada do Camburão. Nelson Justus foi denunciado cinco anos depois. Está tranquilo. Rindo e sorrindo.

Temos ainda como um exemplo, entre vários casos de abastados, o de Pimenta Neves, jornalista famoso, que matou e confessou o assassinato de Sandra Gomide com um tiro nas costas outro no ouvido. Demorou 10 anos para ser preso, graças aos altos tribunais. Ainda assim, só ficou detido por dois anos, e passou para o semiaberto. Lembrando que os criminosos, na maioria, nunca vão presos. Apenas alguns, para causar boa impressão, mas logo são libertados.

E os juízes corruptos? Quando recebem a punição máxima, são aposentados com salário integral, como se estivessem trabalhando. Prisão? Nem pensar!  E os que, querendo privilégios inconcebíveis, ameaçam guardas de trânsito e funcionários de empresa aérea?
E os médicos que fazem cirurgias desnecessárias para receber do SUS, do paciente e das empresas que fornecem o material da cirurgia? E os que recebem sem trabalhar? Normalmente são afastados temporariamente, continuam recebendo salários por ordem da Justiça, e não devolvem o que receberam indevidamente.

Todos têm proteção. São inúmeros casos.

Agora, um grande movimento quer alterar a maioridade penal. Para alguns, retrocesso; para outros, avanço. Deve haver punição igual à dos adultos, ou fazer cumprir as medidas que existem hoje? Discussão válida, mas, primeiro, é preciso discutir essa parcialidade que existe quando vai se prender alguém.  Querem prender menores criminosos... pobres. Os que têm boa condição financeira se safariam. A exemplo dos maiores.

Os garotos que atearam fogo no índio Galdino (depois houve outros casos similares) foram beneficiados pelos privilégios de sua classe social. Justificativa oficial: “Pensaram que era um mendigo” (????). Entre eles, o menor, ficou três meses num centro de reabilitação. Os maiores ficaram presos 1 ano, ganharam semiaberto. Iam de carro próprio para a prisão, depois de participar de baladas. Foram autorizados a prestar concurso público (filhos de gente importante). Três anos depois, liberdade condicional. Quando presos, ficavam numa biblioteca. Tinham a chave de sua “cela”. Hoje pagamos altos salários para eles.

Dias atrás, um motorista atropelou e matou uma senhora. Excesso de velocidade. Apresentou-se, pagou fiança e foi solto. Isso acontece diariamente.

Donizete Dorneles, empresário que confessou ter mandado matar Valdeci Mattos, foi solto dois dias depois, por ordem da Justiça. Os assassinos do cinegrafista Santiago Andrade (em manifestações de rua) estão soltos. O assassino confesso de Maycon Vieira da Silva também. O que matou o desenhista Glauco foi solto e cometeu outro homicídio. Etc., etc. Todos maiores de idade.

E os inúmeros casos de policiais assassinos? Contam com a impunidade.

Qual juiz está certo? O que condena, ou o que solta? Vale lembrar que os juízes de primeira instância, estaduais e federais, passam por um rigoroso processo de seleção e recebem cursos de formação. Os de tribunais superiores recebem nomeação por indicação. Nelson Jobim, por exemplo, foi nomeado juiz do STF. Era um político profissional formado em Direito.  Gilmar Mendes, Tóffoli e outros, também de outros tribunais superiores, nunca haviam sido juízes. As jovens filhas dos ministros-juízes Marco Aurélio e Fux foram nomeadas juízas em  tribunais superiores. Também sem concurso. E assim vai. 

Importante lembrar que os grandes corruptos brasileiros são condenados e presos no exterior. Aqui... nada. Todos maiores de idade.

Enquanto isso, pra distrair, vamos prender os menores.

O principal problema não são eles. São os maiores que contam com a impunidade e a proteção da banda podre do Judiciário. Temos leis, mas falta justiça.

angeloroman@terra.com.br