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sábado, 13 de junho de 2015

GANÂNCIA, AMBIÇÃO, PARTILHA, PICARETAS

- “Gostei do palestrante! Muito bom. Nos fez tirar os sapatos, dançar, abraçar! Muito legal. Contou piadas que nos fez morrer de rir.”

Assisti a muitas palestras. Sempre perguntava pra alguém o que tinha achado. Poucos palestrantes haviam acrescentado alguma coisa à vida dos que os ouviram. Nada pro dia seguinte, a não ser a lembrança das boas piadas. Dias depois, nem isso. A parte lúdica é importante, desarma o espírito, mas, pra mim, não pode ser o foco, o destaque, a única lembrança que fica.

Vi picaretas, vi palestrantes de primeira. Eu sempre com papel e caneta para fazer anotações. Guardo-as e revejo de quando em quando.

Ontem Mário Cortella, palestrante que tem conteúdo, que faz as pessoas pensarem de forma leve, atrativa, estava num programa de televisão. Já assisti a duas palestras dele. 
O programa tratava de nossa vida nos anos 60. Cortella falou das roupas simples dessa época. Diferentes, coloridas, alegres. Me lembrei de que queríamos ser diferentes. Comprávamos o tecido e encomendávamos para costureira, ou mãe, ou irmã (camisas) ou alfaiates (calças). Ninguém queria se vestir igual ao outro. Nos anos 90, fui levar minha filha, então adolescente, a uma festa de jovens. Ela estava de preto. Lá chegando, vi trocentas garotas... de preto. Queriam ser iguais.

Cortella lembrou que aprendíamos a não deixar comida no prato. Nos servíamos do que iríamos comer. Jogar fora, nem pensar! E tínhamos que apagar a luz em cômodos que não estavam sendo utilizados. Puxa vida! Em casa era assim. Sem desperdícios.

Semana passada fui a uma pizzaria. Serviam em rodízio. Na mesa ao lado, um casal com a filha pequena. Observei que pegavam, para os três, todas as pizzas oferecidas. Não davam conta. Comiam um pedacinho, ou nem isso. As fatias iam se acumulando, esfriando. Daí eles as colocavam num “cemitério”, que se transformou numa torre de  pizzas. Tudo destinado ao lixo. Isso não é fartura. É desperdício. E de algo sagrado: comida. A filha vai sempre reproduzir isso. Há uma frase antiga que diz: “O mundo que vamos deixar para nossos filhos depende muito dos filhos que nós vamos deixar para o mundo.”

E o consumismo? Muitos têm e utilizam objetos pelos quais têm obsessão. Sair a passeio inclui comprar algo, ver vitrines.  Acabam sendo possuídos por aquilo de que são proprietários. São escravos de uma linda casa, um lindo carro, um objeto tecnológico. O estímulo ao consumismo acaba provocando a ganância (querer só para si, a qualquer custo), diferente de ambição (querer mais, mas em benefício de si e dos outros). A ganância leva ao estresse. Traz prazer passageiro. A pessoa nunca se satisfaz. O desejo de ter algo é substituído por outra coisa maior. Geralmente não essencial. Nem fundamental.

Essencial e fundamental são diferentes. Essencial é ter amizade, afetividade, fraternidade, amorosidade, espiritualidade e coisas que não podem faltar para se viver. Fundamental é aquilo que nos leva ao essencial. Por exemplo, o dinheiro não é essencial.  É fundamental. Dinheiro não compra amizade. “Tem gente tão pobre que a única coisa que tem é dinheiro”. Fundamental é como uma escada. Não se fica sobre ela, mas se utiliza para chegar a algum lugar. Até a uma vida simples.

Vida simples não é vida de carência. É ter só coisas que são úteis ou prazerosas, essenciais. Vida simples é aquela em que a gente tem suficiência de recursos para existir, prover o futuro e... partilhar.

O conhecido “Milagre da multiplicação” de Jesus foi, na verdade, o milagre da partilha. Ele não fez surgirem pães e peixes para milhares de pessoas, como nos ensinaram. O “Dai-lhes vós mesmos de comer” que Ele disse mobilizou todos a compartilharem o pouco que tinham. Pegaram um pouco de cada um e todos comeram. Ainda sobrou. Se Cristo fosse apenas dividir os 5 pães e 2 peixes que tinha às mãos não daria nem uma escama pra cada um.  Quando se partilha, todos têm; quando se divide, poucos têm. Essa é a lição.

Falta-nos escutar mais. O conselho de Rubem Alves cabe bem: Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir”.

Escutemos, por livros ou pela audição, os bons autores e palestrantes.


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