- “Gostei do palestrante! Muito
bom. Nos fez tirar os sapatos, dançar, abraçar! Muito legal. Contou piadas que
nos fez morrer de rir.”
Assisti a muitas palestras.
Sempre perguntava pra alguém o que tinha achado. Poucos palestrantes haviam
acrescentado alguma coisa à vida dos que os ouviram. Nada pro dia seguinte, a
não ser a lembrança das boas piadas. Dias depois, nem isso. A parte lúdica é
importante, desarma o espírito, mas, pra mim, não pode ser o foco, o destaque,
a única lembrança que fica.
Vi picaretas, vi palestrantes
de primeira. Eu sempre com papel e caneta para fazer anotações. Guardo-as e
revejo de quando em quando.
Ontem Mário Cortella, palestrante
que tem conteúdo, que faz as pessoas pensarem de forma leve, atrativa, estava num
programa de televisão. Já assisti a duas palestras dele.
O programa tratava de nossa
vida nos anos 60. Cortella falou das roupas simples dessa época. Diferentes,
coloridas, alegres. Me lembrei de que queríamos ser diferentes. Comprávamos o
tecido e encomendávamos para costureira, ou mãe, ou irmã (camisas) ou alfaiates
(calças). Ninguém queria se vestir igual ao outro. Nos anos 90, fui levar minha
filha, então adolescente, a uma festa de jovens. Ela estava de preto. Lá
chegando, vi trocentas garotas... de preto. Queriam ser iguais.
Cortella lembrou que
aprendíamos a não deixar comida no prato. Nos servíamos do que iríamos comer. Jogar
fora, nem pensar! E tínhamos que apagar a luz em cômodos que não estavam sendo
utilizados. Puxa vida! Em casa era assim. Sem desperdícios.
Semana passada fui a uma
pizzaria. Serviam em rodízio. Na mesa ao lado, um casal com a filha pequena.
Observei que pegavam, para os três, todas as pizzas oferecidas. Não davam
conta. Comiam um pedacinho, ou nem isso. As fatias iam se acumulando,
esfriando. Daí eles as colocavam num “cemitério”, que se transformou numa torre
de pizzas. Tudo destinado ao lixo. Isso
não é fartura. É desperdício. E de algo sagrado: comida. A filha vai sempre reproduzir
isso. Há uma frase antiga que diz: “O mundo que vamos deixar para nossos
filhos depende muito dos filhos que nós vamos deixar para o mundo.”
E o consumismo? Muitos têm e utilizam
objetos pelos quais têm obsessão. Sair a passeio inclui comprar algo, ver
vitrines. Acabam sendo possuídos por
aquilo de que são proprietários. São escravos de uma linda casa, um lindo
carro, um objeto tecnológico. O estímulo ao consumismo acaba provocando a
ganância (querer só para si, a qualquer custo), diferente de ambição (querer
mais, mas em benefício de si e dos outros). A ganância leva ao estresse. Traz prazer
passageiro. A pessoa nunca se satisfaz. O desejo de ter algo é substituído por
outra coisa maior. Geralmente não essencial. Nem fundamental.
Essencial e fundamental são
diferentes. Essencial é ter amizade, afetividade, fraternidade, amorosidade,
espiritualidade e coisas que não podem faltar para se viver. Fundamental é
aquilo que nos leva ao essencial. Por exemplo, o dinheiro não é essencial. É fundamental. Dinheiro não compra amizade.
“Tem gente tão pobre que a única coisa que tem é dinheiro”. Fundamental é como
uma escada. Não se fica sobre ela, mas se utiliza para chegar a algum lugar. Até
a uma vida simples.
Vida simples não é vida de
carência. É ter só coisas que são úteis ou prazerosas, essenciais. Vida simples
é aquela em que a gente tem suficiência de recursos para existir, prover o
futuro e... partilhar.
O conhecido “Milagre da
multiplicação” de Jesus foi, na verdade, o milagre da partilha. Ele não fez
surgirem pães e peixes para milhares de pessoas, como nos ensinaram. O
“Dai-lhes vós mesmos de comer” que Ele disse mobilizou todos a compartilharem o
pouco que tinham. Pegaram um pouco de cada um e todos comeram. Ainda sobrou. Se
Cristo fosse apenas dividir os 5 pães e 2 peixes que tinha às mãos não daria
nem uma escama pra cada um. Quando se
partilha, todos têm; quando se divide, poucos têm. Essa é a lição.
Falta-nos escutar mais. O
conselho de Rubem Alves cabe bem: “Sempre vejo anunciados cursos de
oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a
falar. Ninguém quer aprender a ouvir”.
Escutemos, por livros ou pela
audição, os bons autores e palestrantes.
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