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domingo, 27 de julho de 2014

SORTE DE UNS, AZAR DE OUTROS

“Ele escala o Ministério, eu escalo a Seleção”.
Essa frase selou a carreira de João Saldanha como técnico da Seleção Brasileira de Futebol, em 1970. Foi demitido. Faltavam três meses para a Copa no México. O presidente Garrastazu Médici pediu a convocação de Dario, o Dadá Maravilha. Saldanha (chamado de João-Sem-Medo por Nelson Rodrigues) tinha personalidade forte e jamais se dobrava. Soltou a frase acima... e perdeu o emprego. Não era pedido. Era ordem. Voltou para o jornalismo. Eu gostava muito de ouvir seus comentários na TV e ler seus artigos nos jornais.
Um sortudo substituiu João Saldanha na Seleção: Zagallo. Pegou uma equipe prontinha, entrosada, que havia conquistado vaga na Copa ganhando todos os jogos eliminatórios. Agora Médici foi obedecido e Dadá foi convocado. O presidente mandou convocar pra seleção, mas, parece, não exigiu que entrasse em campo. Dadá ficou na reserva. Ele é o único caso de jogador ser convocado pelo Presidente da República. Brasil foi campeão com a seleção montada e esquematizada por Saldanha.  Mas a sorte de Zagallo começou em 1958, em sua primeira Copa. Ele era reserva de Pepe, que se contundiu pouco antes do certame. Zagallo aproveitou a sorte da contusão do titular e jogou bem, o que lhe garantiu a convocação para 1962. Zagallo: bicampeão. Depois, tri, graças ao Médici e ao Saldanha. Voltou à seleção em 1994. Mas o técnico era o Parreira. Zagallo, auxiliar técnico. Brasil ganhou. Zagallo (?).... tetracampeão.
O único tetracampeão do mundo foi muito beneficiado pela sorte. As únicas vezes em que o sucesso dependeu dele, na Seleção, foram nas Copas de 1974 e 1998. Brasil perdeu as duas. Disse ele em 1974, antes de apanhar da Holanda: “O time deles é bom, mas os holandeses não têm tradição em Copas e isso pesa. A Holanda não me preocupa." Em 1998: "Ninguém tira essa Copa do Mundo do Brasil. Eu, Zagallo, tenho a certeza de que o Brasil vai ganhar da França." Outra dele: "Se eu fosse técnico da Noruega, ela já estaria na próxima fase da Copa." Depois que o Brasil perdeu da Noruega: "A Copa começa no jogo contra o Chile." De bravata em bravata, o Brasil foi pro brejo.
A arrogância não o deixou ver que seu maior talento era ter sorte. Sem Médici, sem Saldanha, sem Pepe machucado, sem Parreira, adiantava rezar? Só gogó não dava. Não se pode, claro, contar só com a força invencível do destino. É preciso alguma competência. Sem dúvida, Zagallo, mesmo beneficiado pela sorte, jogou bem em 1958 e 1962. Não se pode dizer o mesmo como técnico. Teve duas oportunidades: 1974 e 1998. Não deu. Nas outras, tinha suporte. Ele tinha razão quando disse: “Vocês vão ter que me engolir”.
Zagallo é um exemplo que vem à tona em época de Copa. Quando morrer, vai virar herói. Há muitos outros casos de sortudos. Li uma jornalista, tempos atrás, que considerava sortudos o Ringo Starr, ao se tornar baterista dos Beatles e Itamar Franco ao se tornar presidente. Pode-se acrescentar Sarney, beneficiado com a morte de Tancredo Neves. Sarney dispensa comentários. Já Itamar foi um bom presidente, não se vendia. Queria marcar seu governo com o fim da inflação descontrolada que havia. Era seu grande objetivo. E conseguiu. Faltou-lhe sorte no mérito de ter estabilizado a economia e implantado o Plano Real. A glória ficou para FHC, seu sortudo Ministro da Fazenda por 10 meses. Goebbels sempre atual.
Rubens Ricúpero, ministro que substituiu FHC disse: "Por razões político-partidárias, resolveu-se dar a Fernando Henrique Cardoso todo o crédito e a paternidade pelo real, o que não é correto".
São pessoas que por acaso estavam no lugar certo na hora certa.
 Ângelo Edval Roman angeloroman@terra.com.br -27.07.14
http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=58157&Not=Sorte%20de%20uns,%20azar%20de%20outros

domingo, 20 de julho de 2014

AMIGO É PRA ESSAS COISAS

Um colega de trabalho comentou em uma reunião de que participávamos que, quando ele se mudou para a belíssima e turística Poços de Caldas, descobriu que tinha muitos amigos. A cada pouco recebia a visita de um, com a família. Não sabia que as pessoas lhe tinham tanto afeto. Essa estima toda se revelou depois da mudança para a atrativa e aprazível cidade.
Nestes tempos de muito contato virtual e pouco contato pessoal, muito interessante refletir sobre a amizade.
As pessoas podem ter saúde, riqueza, poder, mas precisam da amizade para sua realização plena. Ela é uma virtude. É o que diz Aristóteles em “Ética a Nicômaco” (livros VIII e IX), publicado em 350 a.C.

De acordo com o filósofo, temos amizades segundo [1] o prazer, [2] a utilidade (interesse) e [3] a movida pelo bem (virtude). Esta é perfeita, superior, pois é duradoura. As duas primeiras são imperfeitas.
A amizade fundada no [1] prazer visa o que é agradável entre os amigos. Por exemplo, pessoas que são divertidas, provocam riso, têm muitos amigos. Não os têm por sua índole, temperamento, qualidades, mas pela alegria, pelo prazer que oferece. Quer dizer, não é considerada a pessoa em si, mas o prazer dessa relação. É ruim isso? Não há qualquer mal em se gostar e conviver com pessoas engraçadas ou que proporcionam alguma satisfação prazerosa. Todos tivemos relacionamentos pelo prazer no decorrer de nossas vidas. Desde a infância.
Já a amizade pela [2] utilidade/por interesse é comum no ambiente de trabalho, ou num grupo que luta por um propósito, ou apenas para se obter alguma vantagem. As pessoas podem não se gostar e não desejar a companhia uma da outra, mas mantêm a ligação porque isso dará como resultado algo que lhes é útil. O amigo é um meio, não um fim.
Um exemplo: uma mulher pode frequentar o salão de beleza semanalmente, ter conversa agradável, troca de receitas, até alguma confidência com a dona do salão. São amigas. Porém, se um novo salão abrir, com melhores instalações, melhor serviço, preço mais baixo, essa amizade se desfaz.
As amizades de prazer [1] e as de utilidade [2] têm ligações muito fracas e acabam facilmente quando uma das partes deixa de ser agradável ou útil. As necessidades e os prazeres mudam no passar dos anos.
Sobre a amizade [3] movida pela virtude, a amizade perfeita, o filósofo diz que acontece entre pessoas boas e semelhantes nas boas qualidades, pois um deseja o bem ao outro. É resistente à calúnia e é duradoura. As pessoas são amigas por si mesmas, pelo que são. Nesse tipo de amizade, a pessoa quer o melhor para os seus amigos. Independentemente do prazer ou da utilidade. A presença, o encontro, as histórias, as lembranças trazem momentos agradáveis. Algo muito importante: a distância não extingue essa amizade. Apenas a sua atividade.
Segundo Aristóteles, os que não são bons (ele os chama de maus) têm amizades apenas do prazer e da utilidade. Não conseguem ter amizade perfeita. Os bons, por sua vez, podem também ter relações segundo o prazer ou a utilidade (mesmo com os maus), mas apenas eles, os bons, podem ter a amizade verdadeira, virtuosa. Os não bons só têm relação que lhes traga vantagem. Também diz que a amizade é superior à justiça. A justiça é empregada para resolver questões com pessoas que não conhecemos. Com amigos não precisamos de justiça, dada a natureza da amizade.
Sabemos identificar os três tipos de amizade que temos? Quantos amigos verdadeiros temos? Quem são?

domingo, 13 de julho de 2014

SER VELHO OU IDOSO, UMA ESCOLHA

A mulher, vestida de negro e vermelho, maquiagem marcante, com uma flor vermelha no cabelo chamava a atenção, sentada numa mesa à entrada do restaurante que ainda não conhecíamos.
Um atendente se aproximou. Dissemos que nos esperavam no segundo andar. “Ah! Na seresta!”, disse. Deparamo-nos com um salão bem iluminado, de aspecto agradável, ambiente de típica noite de inverno: bufê farto de queijos, pães, torradas e sopas deliciosas. Lotado.
Me senti muito bem. Olhando os presentes, num cálculo rápido, percebi que eu, com 65 anos, era um dos mais novos entre os mais de cinquenta homens presentes. Todos subiram pelas escadas. Não havia elevador.
A alegria tomava conta do ambiente. Não eram velhos os homens e mulheres presentes. Eram idosos. O velho e o idoso podem ter a mesma idade, mas são diferentes. A idade traz consequências de desgaste no corpo. O idoso vive COM elas e não APESAR delas. As células se degeneram deterioram com o tempo. Isso é inevitável. Mas o velho sofre degeneração do espírito. O idoso não.
No idoso, a alma não envelhece. “Quando você é idoso, sonha; quando é velho, apenas dorme.” No rosto do idoso, as rugas são bonitas, com marcas de sorriso, da alegria de viver. No do velho, as rugas não têm beleza. Estão com marcas de amargura.
Naquele espaço, novo para nós, de convivência com tanta afetividade, os idosos cantavam. Fiquei impressionado. Um tocava teclado, muito, muito bem. A senhora que começou a cantoria, com muita vitalidade e alegria, deu um show. Nos disse, depois, sempre sorrindo, que tinha 84 anos. 
Saía um cantor, homem ou mulher, entrava outro. Todos joviais, com andar firme, altivo, mas com leveza. E parecia que o que se apresentava cantava melhor ainda que o anterior. Vozes potentes, interpretações impecáveis, melodiosas, harmoniosas. Vestuário esmerado, mulheres maquiadas, muitas de chapéu.
Saíram das gargantas de ouro dos idosos: Roberta, Professorinha, Rien de Rien, Lá no pé da serra, My way, As rosas não falam e outras canções lindíssimas. Uma senhora declamou. Lindo! Outro foi contar uma boa piada. Todos rindo, sorrindo, felizes. As mulheres, mais desinibidas, deslizavam graciosamente de mesa em mesa com o microfone sem fio, semblante alegre, interpretando a música com o corpo. E com a alma.
A senhora com a flor no cabelo, que antes estava na entrada do restaurante, também se levantou e foi ao microfone. Cantou Mi Buenos Aires querido, do Carlos Gardel. Outro show.
Velho acha isso tudo atividade imprópria para quem tem mais de 60. O idoso, porém, vive o dia de hoje e ainda imagina o futuro. Velho só pensa e vive no passado. Claro, é bom ter lembranças gostosas, mas não apenas viver delas.
Não vi nenhum velho ali. E eram muito organizados, sem pressa. Mesmo com mais de 100 pessoas, em nenhum momento houve fila para as sopas e torradas. E os recipientes eram frequentemente reabastecidos pelos garçons.
Esses idosos têm calendário. Calendário de velho só tem ontem. Calendário de idoso só tem amanhãs. Na próxima quinta, estarão lá novamente, esbanjando sorrisos, alegria. Provavelmente cantarão outras músicas.
Saí com a alma leve. Aqueles semblantes, aquela alegria, aqueles sorrisos felizes ficaram registrados em mim. Vi que todos podemos optar por ser velhos ou idosos, mesmo sem cantar. 
Ao atender o convite, não sabíamos que teríamos uma aula de vida nessa noite.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

ISSO É COMUNISMO!

Ditadura! Mudança de regime! Comunismo!
São as novas ordens para que os "indignados" e os "críticos" exponham e postem  suas opiniões a respeito da Política Nacional de Participação Social (PNPS). Opiniões, no caso, tem a definição da Filosofia de "crença adotada como verdade pelo senso comum sem qualquer reflexão a respeito de sua validade, de seus pressupostos e dos meios pelos quais foi obtida".
Esse tipo de crença vem sendo disseminada há tempos para uso político: a Bolsa Esmola (para desmoralizar o Bolsa Família), o Mais Médicos como uma invasão de Cuba para transformar o Brasil em comunismo(!!!), o Marco Civil da Internet (contrário aos interesses de provedoras),o "imagine na Copa", "a Copa vai ser um fracasso", "o caos nos aeroportos", "estádios vazios", "colapso no transporte" e outras asneiras.
A bola da vez é a PNPS.
Grande parte desses disseminadores não passam  das manchetes quando leem, ou leem a lide (cerca de três linhas). A diretora de redação da BBC (Londres), Silvia Saleck, em entrevista falando sobre o Brasil, disse: "Muita gente se informa só pelas manchetes". Na distante Inglaterra, ela sabe o que acontece aqui.
Os mesmos que defendem as Parcerias Público-Privadas (PPPs) ficam enfurecidos com a possibilidade de parceria com organizações sociais.
Os movimentos sociais de junho do ano passado mostraram, em seu início, a falta de interlocução dos governos com a população. Depois descambou para a violência, convenientemente  aproveitada pela grande mídia e por políticos oportunistas. De qualquer forma, trouxeram à luz, também, a pouca representatividade do Congresso, que, infelizmente, tem, em boa parte dele, baixo nível moral.  A PNPS é uma resposta a esses movimentos e pretende fortalecer o diálogo com a sociedade civil, sem controle do Estado. O governo cumpre sua obrigação e regulamenta o previsto na Constituição.
O usuário, a população é que  vivenciam e sabem dos problemas que enfrentam como ruas que se tornam lamaçal na chuva, falta de ônibus, horas se locomovendo para o trabalho,  mau atendimento nos postos de saúde, esgotos a céu aberto. Políticos procuram símbolos. Tratamento de esgotos e saneamento básico, por exemplo, não dão visibilidade. O que  aparece na TV  são lindas imagens de viadutos estaiados, inauguração de pontes, suntuosos prédios de órgãos públicos.
No artigo 1º da Constituição está: "Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição". Que atentado à democracia existe no "diretamente", na criação de conselhos? Eles já existem, principalmente com empresários. Mas quando entra o cidadão comum tudo muda. Bem mais fácil a classe dominante se entender com os representantes.
Os partidos pregam que a população participe, apoie, critique, fiscalize. Quando isso vai se tornar institucional, o discurso muda. E os inocentes úteis são acionados.  Seguir essas "tendências dominantes" sem análise tornam as pessoas escravas.
Quem tem medo da sociedade civil? Os congressistas  que o têm realmente não nos representam.
Um inocente útil pode e deve ter a humildade de se perceber como tal e mudar. Propagar mentiras é condenável.
"A testemunha falsa não ficará impune; e o que profere mentiras não escapará".  (Provérbios 19:5)

Hoje faz 24 dias que não ia ter copa.