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domingo, 20 de julho de 2014

AMIGO É PRA ESSAS COISAS

Um colega de trabalho comentou em uma reunião de que participávamos que, quando ele se mudou para a belíssima e turística Poços de Caldas, descobriu que tinha muitos amigos. A cada pouco recebia a visita de um, com a família. Não sabia que as pessoas lhe tinham tanto afeto. Essa estima toda se revelou depois da mudança para a atrativa e aprazível cidade.
Nestes tempos de muito contato virtual e pouco contato pessoal, muito interessante refletir sobre a amizade.
As pessoas podem ter saúde, riqueza, poder, mas precisam da amizade para sua realização plena. Ela é uma virtude. É o que diz Aristóteles em “Ética a Nicômaco” (livros VIII e IX), publicado em 350 a.C.

De acordo com o filósofo, temos amizades segundo [1] o prazer, [2] a utilidade (interesse) e [3] a movida pelo bem (virtude). Esta é perfeita, superior, pois é duradoura. As duas primeiras são imperfeitas.
A amizade fundada no [1] prazer visa o que é agradável entre os amigos. Por exemplo, pessoas que são divertidas, provocam riso, têm muitos amigos. Não os têm por sua índole, temperamento, qualidades, mas pela alegria, pelo prazer que oferece. Quer dizer, não é considerada a pessoa em si, mas o prazer dessa relação. É ruim isso? Não há qualquer mal em se gostar e conviver com pessoas engraçadas ou que proporcionam alguma satisfação prazerosa. Todos tivemos relacionamentos pelo prazer no decorrer de nossas vidas. Desde a infância.
Já a amizade pela [2] utilidade/por interesse é comum no ambiente de trabalho, ou num grupo que luta por um propósito, ou apenas para se obter alguma vantagem. As pessoas podem não se gostar e não desejar a companhia uma da outra, mas mantêm a ligação porque isso dará como resultado algo que lhes é útil. O amigo é um meio, não um fim.
Um exemplo: uma mulher pode frequentar o salão de beleza semanalmente, ter conversa agradável, troca de receitas, até alguma confidência com a dona do salão. São amigas. Porém, se um novo salão abrir, com melhores instalações, melhor serviço, preço mais baixo, essa amizade se desfaz.
As amizades de prazer [1] e as de utilidade [2] têm ligações muito fracas e acabam facilmente quando uma das partes deixa de ser agradável ou útil. As necessidades e os prazeres mudam no passar dos anos.
Sobre a amizade [3] movida pela virtude, a amizade perfeita, o filósofo diz que acontece entre pessoas boas e semelhantes nas boas qualidades, pois um deseja o bem ao outro. É resistente à calúnia e é duradoura. As pessoas são amigas por si mesmas, pelo que são. Nesse tipo de amizade, a pessoa quer o melhor para os seus amigos. Independentemente do prazer ou da utilidade. A presença, o encontro, as histórias, as lembranças trazem momentos agradáveis. Algo muito importante: a distância não extingue essa amizade. Apenas a sua atividade.
Segundo Aristóteles, os que não são bons (ele os chama de maus) têm amizades apenas do prazer e da utilidade. Não conseguem ter amizade perfeita. Os bons, por sua vez, podem também ter relações segundo o prazer ou a utilidade (mesmo com os maus), mas apenas eles, os bons, podem ter a amizade verdadeira, virtuosa. Os não bons só têm relação que lhes traga vantagem. Também diz que a amizade é superior à justiça. A justiça é empregada para resolver questões com pessoas que não conhecemos. Com amigos não precisamos de justiça, dada a natureza da amizade.
Sabemos identificar os três tipos de amizade que temos? Quantos amigos verdadeiros temos? Quem são?

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