Um colega de trabalho comentou em uma reunião de
que participávamos que, quando ele se mudou para a belíssima e turística Poços
de Caldas, descobriu que tinha muitos amigos. A cada pouco recebia a visita de
um, com a família. Não sabia que as pessoas lhe tinham tanto afeto. Essa estima
toda se revelou depois da mudança para a atrativa e aprazível cidade.
Nestes tempos de muito contato virtual e pouco
contato pessoal, muito interessante refletir sobre a amizade.
As pessoas podem ter saúde, riqueza, poder, mas
precisam da amizade para sua realização plena. Ela é uma virtude. É o que diz
Aristóteles em “Ética a Nicômaco” (livros VIII e IX), publicado em 350 a.C.
De acordo com o filósofo, temos amizades segundo
[1] o prazer, [2] a utilidade (interesse) e [3] a movida pelo bem (virtude).
Esta é perfeita, superior, pois é duradoura. As duas primeiras são imperfeitas.
A amizade fundada no [1] prazer visa o que é
agradável entre os amigos. Por exemplo, pessoas que são divertidas, provocam
riso, têm muitos amigos. Não os têm por sua índole, temperamento, qualidades,
mas pela alegria, pelo prazer que oferece. Quer dizer, não é considerada a
pessoa em si, mas o prazer dessa relação. É ruim isso? Não há qualquer mal em
se gostar e conviver com pessoas engraçadas ou que proporcionam alguma
satisfação prazerosa. Todos tivemos relacionamentos pelo prazer no decorrer de
nossas vidas. Desde a infância.
Já a amizade pela [2] utilidade/por interesse é
comum no ambiente de trabalho, ou num grupo que luta por um propósito, ou
apenas para se obter alguma vantagem. As pessoas podem não se gostar e não
desejar a companhia uma da outra, mas mantêm a ligação porque isso dará como
resultado algo que lhes é útil. O amigo é um meio, não um fim.
Um exemplo: uma mulher pode frequentar o salão de
beleza semanalmente, ter conversa agradável, troca de receitas, até alguma
confidência com a dona do salão. São amigas. Porém, se um novo salão abrir, com
melhores instalações, melhor serviço, preço mais baixo, essa amizade se desfaz.
As amizades de prazer [1] e as de utilidade [2] têm ligações muito fracas e acabam facilmente quando uma das partes deixa de ser agradável ou útil. As necessidades e os prazeres mudam no passar dos anos.
As amizades de prazer [1] e as de utilidade [2] têm ligações muito fracas e acabam facilmente quando uma das partes deixa de ser agradável ou útil. As necessidades e os prazeres mudam no passar dos anos.
Sobre a amizade [3] movida pela virtude, a amizade
perfeita, o filósofo diz que acontece entre pessoas boas e semelhantes nas boas
qualidades, pois um deseja o bem ao outro. É resistente à calúnia e é
duradoura. As pessoas são amigas por si mesmas, pelo que são. Nesse tipo de
amizade, a pessoa quer o melhor para os seus amigos. Independentemente do
prazer ou da utilidade. A presença, o encontro, as histórias, as lembranças
trazem momentos agradáveis. Algo muito importante: a distância não extingue
essa amizade. Apenas a sua atividade.
Segundo Aristóteles, os que não são bons (ele os
chama de maus) têm amizades apenas do prazer e da utilidade. Não conseguem ter
amizade perfeita. Os bons, por sua vez, podem também ter relações segundo o
prazer ou a utilidade (mesmo com os maus), mas apenas eles, os bons, podem ter
a amizade verdadeira, virtuosa. Os não bons só têm relação que lhes traga
vantagem. Também diz que a amizade é superior à justiça. A justiça é empregada
para resolver questões com pessoas que não conhecemos. Com amigos não precisamos
de justiça, dada a natureza da amizade.
Sabemos
identificar os três tipos de amizade que temos? Quantos amigos verdadeiros
temos? Quem são?
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