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sábado, 6 de dezembro de 2014

FILHOS PARA O MUNDO OU PARA O MERCADO?

A propaganda de um colégio muito conceituado em Curitiba me assustou: anunciava que preparava os alunos para o vestibular e para o mercado de trabalho. Colocar seu filho, jovem, para ser um fornecedor de mão de obra que o processo produtivo exige é doído. Em muitos casos, os jovens não recebem formação humanista. Só técnica.

Será por esse tal mercado de trabalho que são comuns profissionais mal humorados, médicos que tratam mal seus pacientes, não comparecem ao trabalho (mas recebem o salário), advogados que ficam com o dinheiro de seus clientes, administradores que humilham subordinados, e por aí afora?

Formar para o mundo do trabalho é diferente: capacitar a viver de forma cooperativa e útil à sociedade. Felizmente ainda há escolas que priorizam isso. O aluno recebe formação humanística junto com a técnica. Passa nos vestibulares sem ter estudado (robotizado) especificamente para isso. Tornam-se excelentes profissionais. Tudo pela bagagem abrangente de conhecimento que adquirem.

Aí surge a dicotomia: vocação e profissão. São diferentes. Na vocação, baseada no coração, a pessoa é feliz na própria ação. Na profissão, baseada no pensamento, o prazer está no ganho financeiro daquilo que se faz. Também, uma pessoa pode ter um trabalho como necessidade profissional e realizar sua vocação, por exemplo, fotografando, ou fazendo outra atividade,  nos finais de semana ou em horas de folga. Ou realizar a vocação num trabalho voluntário.

Claro, todas as vocações podem se transformar em profissões. Quando trabalhamos em algo que verdadeiramente tem a ver com nossa vocação, ficamos bem. Quando não, ficamos irritados, de mau humor, entediados.

Há uma luta atual que afeta nosso futuro: políticos por vocação versus políticos por profissão. Antes do golpe militar, vereador não tinha salário. Cidadãos dedicavam parte de seu tempo trabalhando pela comunidade, e exercendo sua profissão normalmente. Para conquistar apoios, os ditadores criaram o salário. Entraram os políticos profissionais. A coisa só piorou de lá pra cá. No âmbito federal, teremos, a partir do ano que vem, o pior Congresso em muitos anos. Cheio de profissionais. Apenas alguns vocacionados.

O professor norte-americano Mark Albion divulgou uma pesquisa que mostra a importância do respeito à vocação e aos valores nas escolhas que uma pessoa faz ao longo da carreira. Pesquisou 1.500 profissionais que haviam concluído o Master in Business Administration (MBA) nas melhores escolas americanas. Deles, 83% buscavam realização financeira. Os outros 17% estavam interessados em atender à sua vocação, que era definida por eles como "algo que me dê prazer, satisfação, que eu goste de fazer".

Vinte anos depois, Albion foi verificar como estava a carreira desses profissionais. Do total, 102 haviam alcançado imenso sucesso em suas carreiras, inclusive financeiramente. Desses, 101 pertenciam ao grupo dos 17%, aqueles que miraram no prazer e acertaram na vocação. Apenas um pertencia ao grupo que fez sua escolha orientada pelo dinheiro.

A palavra vocação vem do latim “vocare” (chamar). A escuta da vocação é difícil, por causa de opções mais glamourosas, ou “da moda”: medicina, engenharia, computação, direito, publicidade. Todas elas, legítimas, se forem vocação.  

Deve-se optar por uma profissão não pelo seu prestígio social, mas por ser sua preferida. Todavia, se um filho diz que quer ser professor, profissão importantíssima e ao mesmo tempo desvalorizada, muitas vezes causa apreensão nos pais. Procuram fazê-lo mudar de ideia. Seria o caso, diante das péssimas condições salarial e de trabalho vivenciadas pelos professores, que se deixasse de lado a ideia de sacerdócio e se adotasse a de profissional? Se professor fosse tratado como um profissional e não como um sacerdote, como é propagado, seria melhor para eles, mestres, e para os alunos?

"Escolha um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia em sua vida". (Confúcio).

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