As
madames dos bairros nobres, em sua doce ociosidade, com os filhos sob os cuidados das zelosas babás,
saíram às janelas bater panelas durante o pronunciamento da presidente Dilma.
Já xingaram sem ao menos ouvir. Apenas exercitaram seu ódio.
No chá da tarde de hoje, se
reúnem e contam orgulhosas o que fizeram. Têm nojo de pobre. Os maridos rolam
de ganhar dinheiro com os juros altos, com a sonegação de impostos, não têm
preocupação com salário-desemprego, com o aumento da conta de luz (que diminui
a compra de comida), etc.
Tiveram a ajuda de serviçais para
saber onde era a cozinha da casa, onde estavam as panelas e para aprenderem
como segurá-las nas mãos. Os anéis atrapalhavam, as correntes balançavam muito.
Foram acompanhadas, em outros bairros, pelas suas
admiradoras e seguidoras: as mulheres da classe média despolitizada, cujo sonho
é ser como as madames. Procuram imitá-las no que podem, mais levar filho
pra escola, fazer uma comidinha, ir pro salão às sextas, exercitar o cérebro
com as amigas tentando adivinhar os próximos capítulos da novela. Em Curitiba,
abundam. Os maridos incentivam o panelaço. Terminaram o expediente preparando a
papelada pra não recolher os impostos que cobraram de seus consumidores. Repetem
as piadas que ouviram dos seus senhores e ídolos, chegam em casa com a revista
que obedientemente leem, apertada no sovaco, e papagueiam, com ar crítico, o
que ouviram ou conseguiram ler.
36 milhões de pessoas que saíram
da miséria estão exigindo melhores salários para trabalhar; 10 milhões que se
tornaram micro e pequenos empreendedores podem comprar carro, e atrapalham o
trânsito nas ruas; cerca de 2 milhões de pobres se sentam nas carteiras
ao lado dos abastados nas universidades do País, atrapalhando o cenário com
suas roupas simples, sem etiquetas, sendo motivo de chacotas. Esse povo
tem que voltar para as senzalas! Panelaço neles!
As batedoras de panelas não se
indignam com o estrago que alguns juízes estão fazendo com a Justiça, com as
mordomias que o Judiciário e Legislativo se autoconcedem, com vazamentos
seletivos que saem de processos sigilosos, com os processos arquivados
seletivamente. Acham que a greve de professores do Paraná é apenas "coisa
do PT". Aplaudem a decisão que exige o fim do movimento e pagamento de
multa, já que o governador supostamente cumpriu o acordo com os grevistas. Até
juiz acredita nisso. Não sabem as paneleiras e seus maridos que professor do
Paraná, em sua maioria, não vota no PT, carrega o mesmo ódio pregado pelas suas
admiradas madames e seus maridos e têm Síndrome de Estocolmo (como toda a
classe média despolitizada), votam no Beto (e vão votar de novo). Professores fazem
greve porque têm motivos concretos. Ao contrário das paneleiras. No caso
do professorado, nada a ver com politização (dar ou adquirir consciência
dos deveres e direitos do cidadão), que um dia, quem sabe, terão. Eles têm que ser defendidos
pela população, não atacados.
Na “marcha-a-ré” do dia 15, dados
os motivos de seus organizadores (querem, por exemplo, que o pré-sal seja dado
aos americanos, como prometeu José Serra em sua campanha para a Presidência),
os participantes devem ir vestidos a caráter: de palhaços. Serão os serviçais
dos poderosos e das madames.
Que bom se a energia gasta nas
passeatas e na bateção de panelas fosse gasta em um movimento contra os abusos
das autoridades nos três poderes, contra os engavetamentos de processos, contra
as ações neoliberais tão condenadas pelo PT que ele próprio está nos impondo,
contra a falência do Paraná, contra os benefícios absurdos autoconcedidos pelas
autoridades. No caso das madames, seria um tiro no próprio pé.
"O panelaço nas varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção", diz o jornalista Juca Kfouri; "Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade."
Uma banana pras
"indignadas" de plantão com suas panelas importadas. Uma
esperança que as da classe média se envergonhem e se reposicionem.
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