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segunda-feira, 9 de março de 2015

MADAMES PEGAM NAS PANELAS

As madames dos bairros nobres, em sua doce ociosidade, com os filhos sob os cuidados das zelosas babás, saíram às janelas bater panelas durante o pronunciamento da presidente Dilma. Já xingaram sem ao menos ouvir. Apenas exercitaram seu ódio.

No chá da tarde de hoje, se reúnem e contam orgulhosas o que fizeram. Têm nojo de pobre. Os maridos rolam de ganhar dinheiro com os juros altos, com a sonegação de impostos, não têm preocupação com salário-desemprego, com o aumento da conta de luz (que diminui a compra de comida), etc.

Tiveram a ajuda de serviçais para saber onde era a cozinha da casa, onde estavam as panelas e para aprenderem como segurá-las nas mãos. Os anéis atrapalhavam, as correntes balançavam muito.

Foram acompanhadas, em outros bairros, pelas suas admiradoras e seguidoras: as mulheres da classe média despolitizada, cujo sonho é ser como as madames. Procuram imitá-las no que podem,  mais levar filho pra escola, fazer uma comidinha, ir pro salão às sextas, exercitar o cérebro com as amigas tentando adivinhar os próximos capítulos da novela. Em Curitiba, abundam. Os maridos incentivam o panelaço. Terminaram o expediente preparando a papelada pra não recolher os impostos que cobraram de seus consumidores. Repetem as piadas que ouviram dos seus senhores e ídolos, chegam em casa com a revista que obedientemente leem, apertada no sovaco, e papagueiam, com ar crítico, o que ouviram ou conseguiram ler.

36 milhões de pessoas que saíram da miséria estão exigindo melhores salários para trabalhar; 10 milhões que se tornaram micro e pequenos empreendedores podem comprar carro, e atrapalham o trânsito nas ruas; cerca de 2  milhões de pobres se sentam nas carteiras ao lado dos abastados nas universidades do País, atrapalhando o cenário com suas roupas simples, sem etiquetas, sendo motivo de chacotas.  Esse povo tem que voltar para as senzalas! Panelaço neles!

As batedoras de panelas não se indignam com o estrago que alguns juízes estão fazendo com a Justiça, com as mordomias que o Judiciário e Legislativo se autoconcedem, com vazamentos seletivos que saem de processos sigilosos, com os processos arquivados seletivamente. Acham que a greve de professores do Paraná é apenas "coisa do PT". Aplaudem a decisão que exige o fim do movimento e pagamento de multa, já que o governador supostamente cumpriu o acordo com os grevistas. Até juiz acredita nisso. Não sabem as paneleiras e seus maridos que professor do Paraná, em sua maioria, não vota no PT, carrega o mesmo ódio pregado pelas suas admiradas madames e seus maridos e têm Síndrome de Estocolmo (como toda a classe média despolitizada), votam no Beto (e vão votar de novo). Professores fazem greve porque têm motivos concretos. Ao contrário das paneleiras. No caso do professorado, nada a ver com politização (dar ou adquirir consciência dos deveres e direitos do cidadão), que um dia, quem sabe, terão. Eles têm que ser defendidos pela população, não atacados.

Na “marcha-a-ré” do dia 15, dados os motivos de seus organizadores (querem, por exemplo, que o pré-sal seja dado aos americanos, como prometeu José Serra em sua campanha para a Presidência), os participantes devem ir vestidos a caráter: de palhaços. Serão os serviçais dos poderosos e das madames.

Que bom se a energia gasta nas passeatas e na bateção de panelas fosse gasta em um movimento contra os abusos das autoridades nos três poderes, contra os engavetamentos de processos, contra as ações neoliberais tão condenadas pelo PT que ele próprio está nos impondo, contra a falência do Paraná, contra os benefícios absurdos autoconcedidos pelas autoridades. No caso das madames, seria um tiro no próprio pé.

 "O panelaço nas varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção", diz o jornalista Juca Kfouri; "Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando  aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade."


Uma banana pras "indignadas" de plantão com suas panelas importadas. Uma esperança que as da classe média se envergonhem e se reposicionem.

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