Havia, em números arredondados, 900 alemães e 800
brasileiros. Os demais eram de outras nacionalidades.
Viajavam juntos num navio que ia do Brasil para a Itália. Dezenove dias de
viagem, de experiências interessantes sobre diferenças culturais entre alemães
e brasileiros. E entre os brasileiros, conforme a região do País. O preço
convidativo e o parcelamento facilitado animaram muitos brasileiros a
embarcarem na ideia da viagem.
Nos elevadores do navio, as portas se abriam. Os alegres
brasileiros, alguns de roupas multicoloridas, já entravam desejando um sincero
bom dia. Os alemães, de cara amarrada, mudos, nem balançavam a cabeça. Quem sabe um "Good Morning!"?. Nada. Os brasileiros se espremiam para caber mais
um, respeitando a quantidade máxima permitida. Os alemães não se mexiam um
milímetro. Incomodavam-se com a conversa
descontraída e barulhenta dos brasileiros.
Curiosidades:
- nos
desembarques nos diversos portos, os brasileiros se organizavam em filas. Os
alemães chegavam e entravam onde achavam melhor. Os brasileiros os mandavam
para o final da fila, eles não entendiam. Achavam normal. Nos elevadores
também. A hora que a porta abria corriam para o "embarque" sem
observar quem estava na frente.
- no restaurante que tinha bufê, na hora do almoço, era comum
ver pratos abarrotados de comida abandonados nas mesas de brasileiros. A comida
ia pro lixo. Os germânicos eram criteriosos. Punham no prato só o que iam
comer. Postura ética e cristã.
- no jantar,
com cardápio, numa mesa de brasileiros, a senhora de roupas coloridas e
maquiagem saliente fala alto com o garçom, empurra o prato que ela havia pedido
e diz: "Eu não como isso!". Reclama da comida quase aos berros, apoiada no sorriso
dos outros sete comensais da mesa. Os vizinhos
olham, o garçom fica vermelho, recolhe o prato e pede pra ela escolher
outro. Na missa semanal privada e, depois, na reza do terço, a humilhação dada
aos serviçais nem é lembrada. Na confissão para receber a hóstia, isso não é
considerado. Afinal, garçom é pra servir.
- nas mesas de alemães, silêncio, falam pouco e em volume
baixo. Chamam o garçom discretamente.
- depois do
jantar, teatro. Os artistas apresentam sua arte com cantos, danças, concertos
de piano. Na plateia ouvem-se conversas altas (em português), risadas ruidosas,
um senta-levanta constante.
- à pergunta sobre de qual
nacionalidade as pessoas dão mais trabalho aos serviçais, respondem: brasileiros.
Os alemães são secos, mas não agridem, são respeitosos. Brasileiro é alegre,
descontraído, mas humilha.
A boa situação econômica do Brasil diante dos europeus nos
tornou turistas desejados, mas a possibilidade de ter um padrão de vida melhor fez,
em muitos, a arrogância subir à cabeça. E a Síndrome de Estocolmo acontece.
Conversando
com dois europeus, um trabalhando na Itália, outro na Suíça, ambos afirmam adorar
o nosso país. Estiveram por aqui e gostaram muito do jeito brasileiro de ser:
informal, alegre, receptivo. O da Itália disse que gostaria que o filho fosse
criado no Brasil. Fazia de tudo pra conseguir isso. O da Suíça, um português,
estava aguardando a aposentadoria. Assim
que a obtivesse viria morar aqui.
Claro, não se pode generalizar. Não é todo brasileiro ou
alemão que é assim ou assado. Apenas uma amostra de alguns, numa situação
específica. Mas tudo está intimamente ligado à cultura do seu país. Para alguns
deste lindo país tropical, o mais insignificante é outro brasileiro.
Temos muito
a ensinar e muito a aprender.
No jornal: http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=63749&Not=Contrastes%20em%20alto%20mar
No jornal: http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=63749&Not=Contrastes%20em%20alto%20mar
angeloroman@terra.com.br -
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