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sábado, 3 de janeiro de 2015

PODEMOS SER COMO AS OSTRAS?

Na virada do ano todos desejamos um ao outro muitas felicidades, um ano novo bom. A primeira coisa é que é preciso merecer esse tal ano novo. E quem o faz ser novo somos nós mesmos. O Ano Novo está dentro de nós, cochilando.   Apenas precisa ser despertado.

Em todos, e principalmente para mim, que tenho mais passado do que futuro, na mudança de ano passam pela cabeça coisas boas, algumas (poucas) coisas tristes, de infelicidades, que, com certeza, nos trouxeram aprendizado. Afinal, "ostra feliz não faz pérola". Um dos aprendizados necessários com relação à infelicidade é que o início dela está na comparação. A pessoa se compara com um esperto, um rico, um que fala bem, que se veste bem, daí se sente inferior... e fica infeliz. Pode combater isso aprendendo a cuidar de si e a buscar coisas que lhe fazem sentido. Não é necessário o choro de arrependimento pelas besteiras feitas, acreditando que a partir de janeiro tudo muda e que haverá justiça entre os homens.

Nos lembramos dos ausentes e achamos que a comunhão das pessoas acontecem nos risos das festas. Pode parecer estranho, mas a sintonia, a identificação acontece na ausência do outro. Com a ausência existe uma maior proximidade.

Nos abraçamos sem pensar que o amor não está na partida nem na chegada. Está na travessia. Ele, o amor, se agiganta na adversidade, nas dificuldades. Se acabar nessas horas desfavoráveis, não é amor verdadeiro. Isso também acontece com a amizade.

Quando escrevemos (e as redes sociais nos estimulam a escrever), expomos nossa vida e como somos. Meus textos falam de mim. É quase uma confissão. Com isso, ganhamos e perdemos amigos (reais e virtuais). O ano que terminou foi abundante nisso. Ano eleitoral muito disputado, fez nascerem amizades e morrerem outras. As que morreram não eram amizade de verdade. Talvez, algumas acabaram por não se reconhecer que "o universo de cada um se resume ao tamanho do seu saber". Outras terminaram pelas pessoas não suportarem questionamentos a postagens sem fundamento. Bem mais fácil é conversar com quem concordamos! É a melhor forma de continuar na ignorância de alguma coisa.

Tenho amigos que pensam diferente de mim em algum assunto, mas nossa amizade é inabalável. Se um amigo tem outra visão sobre alguma coisa, cada um reconhece a opinião do outro e ele tem tanto desejo quanto eu de termos um mundo melhor, quero tê-lo por perto.

Ano novo, hora de trocar o "Penso, logo existo", de Descartes, pelo "Erro, logo existo", de Santo Agostinho. Hora de passar a sentir o mundo em lugar de capturar: em vez de perder um lindo show, preocupado em gravá-lo com o celular, sinta o prazer, o momento, curta-o. Grave apenas algumas cenas pra depois matar a saudade e voltar a alegria. Perde-se o show pra poder pôr um vídeo mal-acabado no YouTube ("eu estive lá!).  Em vez de gravar uma pessoa tentando sair do carro em chamas, gritando de dor e horror, vá ajudá-la (vi isso hoje na TV. A pessoa acabou morrendo queimada). Transferem-se emoções para os cartões de memória.

Hora de termos prazer e alegria, sabendo que o prazer acontece num momento. Não se repete. A alegria existe na lembrança. Basta  lembrar para ela se repetir.

Hora de tentarmos substituir as placas de "Perigo, cerca elétrica!" pela de "Bem-vindo". Inatingível? Não por isso não tenho essa querença. Quintana diz que os caminhos seriam tristes se não fosse a presença distante das inatingíveis estrelas.

Hora de encontrar a felicidade. Ela é procurada por toda parte, "tal e qual o avozinho infeliz: em vão, por toda parte, os óculos procura tendo-os na ponta do nariz!" (Quintana).


angeloroman@terra.com.br

No jornal: http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=63092&Not=Podemos%20ser%20como%20as%20ostras?   

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