Na virada do ano todos desejamos um ao outro muitas
felicidades, um ano novo bom. A primeira coisa é que é preciso merecer esse tal
ano novo. E quem o faz ser novo somos nós mesmos. O Ano Novo está dentro de
nós, cochilando. Apenas precisa ser
despertado.
Em todos, e principalmente para mim, que tenho mais passado
do que futuro, na mudança de ano passam pela cabeça coisas boas, algumas
(poucas) coisas tristes, de infelicidades, que, com certeza, nos trouxeram
aprendizado. Afinal, "ostra feliz não faz pérola". Um dos
aprendizados necessários com relação à infelicidade é que o início dela está
na comparação. A pessoa se compara com um esperto, um rico, um que fala
bem, que se veste bem, daí se sente inferior... e fica infeliz. Pode combater
isso aprendendo a cuidar de si e a buscar coisas que lhe fazem sentido. Não é
necessário o choro de arrependimento pelas besteiras feitas, acreditando que a
partir de janeiro tudo muda e que haverá justiça entre os homens.
Nos lembramos dos ausentes e achamos que a comunhão das
pessoas acontecem nos risos das festas. Pode parecer estranho, mas a sintonia,
a identificação acontece na ausência do outro. Com a ausência existe uma maior
proximidade.
Nos abraçamos sem pensar que o amor não está na partida nem
na chegada. Está na travessia. Ele, o amor, se agiganta na adversidade,
nas dificuldades. Se acabar nessas horas desfavoráveis, não é amor verdadeiro. Isso
também acontece com a amizade.
Quando escrevemos (e as redes sociais nos estimulam a
escrever), expomos nossa vida e como somos. Meus textos falam de mim. É quase
uma confissão. Com isso, ganhamos e perdemos amigos (reais e virtuais). O ano
que terminou foi abundante nisso. Ano eleitoral muito disputado, fez nascerem
amizades e morrerem outras. As que morreram não eram amizade de verdade.
Talvez, algumas acabaram por não se reconhecer que "o universo de cada um
se resume ao tamanho do seu saber". Outras terminaram pelas pessoas não
suportarem questionamentos a postagens sem fundamento. Bem mais fácil é
conversar com quem concordamos! É a melhor forma de continuar na ignorância de
alguma coisa.
Tenho amigos que pensam diferente de mim em algum assunto,
mas nossa amizade é inabalável. Se um amigo tem outra visão sobre alguma coisa,
cada um reconhece a opinião do outro e ele tem tanto desejo quanto eu de termos
um mundo melhor, quero tê-lo por perto.
Ano novo, hora de trocar o "Penso, logo existo", de
Descartes, pelo "Erro, logo existo", de Santo Agostinho. Hora de
passar a sentir o mundo em lugar de capturar: em vez de perder um lindo show,
preocupado em gravá-lo com o celular, sinta o prazer, o momento, curta-o. Grave
apenas algumas cenas pra depois matar a saudade e voltar
a alegria. Perde-se o show pra poder pôr um vídeo mal-acabado no YouTube
("eu estive lá!). Em vez de gravar
uma pessoa tentando sair do carro em chamas, gritando de dor e horror, vá
ajudá-la (vi isso hoje na TV. A pessoa acabou morrendo queimada). Transferem-se
emoções para os cartões de memória.
Hora de termos prazer e alegria, sabendo que o prazer
acontece num momento. Não se repete. A alegria existe na lembrança. Basta lembrar para ela se repetir.
Hora de tentarmos substituir as placas de "Perigo, cerca
elétrica!" pela de "Bem-vindo". Inatingível? Não por isso não
tenho essa querença. Quintana diz que os caminhos seriam tristes se não fosse a
presença distante das inatingíveis estrelas.
Hora de encontrar a felicidade. Ela é procurada por toda
parte, "tal e qual o avozinho infeliz: em vão, por toda parte, os óculos procura
tendo-os na ponta do nariz!"
(Quintana).
angeloroman@terra.com.br
No jornal: http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=63092&Not=Podemos%20ser%20como%20as%20ostras?
No jornal: http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=63092&Not=Podemos%20ser%20como%20as%20ostras?
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