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sábado, 4 de abril de 2015

MANIFESTANTE, SIM. OTÁRIO, NÃO!

Manifestações populares são uma arma da democracia. A tentativa de criar conselhos populares, a exemplo dos países europeus evoluídos, foi frustrada. A imprensa caiu de pau dizendo que era comunismo(???).  A população despolitizada caiu nessa, gritou,  e deu no que deu. Conselhos,  temos... para empresários, com várias câmaras setorias. Se forem para o povo, é "cumunismo". O remédio é ir às ruas.

O problema, muito grave, é que os organizadores das manifestações têm uma pauta desconhecida da maioria dos participantes. Na melhor das intenções, as pessoas vão às ruas contra alguma coisa consistente, mas, na verdade, estão avalizando a pauta dos organizadores: manter os meios de comunicação na mão de sete famílias, volta dos militares, desregulamentação da internet (o que beneficiaria as provedoras), reforma política (qual? A do Eduardo Cunha?), impeachment da presidente (o chamariz),etc. Por enquanto, os protestos já renderam a retirada da regulamentação para ricos pagarem impostos.

Algumas reflexões para se posicionar nas manifestações:

- A Operação Lava Jato está funcionando porque os envolvidos estão PRESOS. Nessa condição, "entregam o ouro". Isso de soltar bandido, mesmo com provas contra, desmoraliza o Judiciário e causa impunidade.

- O povo clama por uma reforma política. Existem quatro propostas. Cunha está providenciando uma para saciar a sede da população. Aplausos à vista. O problema é que a reforma dele vai piorar o que já temos. Como é que o pior Congresso da história do Brasil, chefiado por Cunha, envolvido na Lava Jato, vai reformar a si mesmo? A questão não é só exigir reforma política, mas ver qual estão aprovando.

- O maior fator de corrupção é o financiamento de empresas para campanhas políticas. A financiadora, com seu candidato eleito, recebe de volta oito reais a cada um aplicado. A maioria dos ministros do STF já haviam votado pela sua inconstitucionalidade, quando  Gilmar Mendes pediu vistas. E engavetou.

- Ricardo Boechat, já em 1989, e Paulo Francis, em 1996, denunciaram alta corrupção na Petrobrás. Boechat foi premiado pela reportagem, documentada. Os corruptos foram premiados com a complacência amiga das autoridades e nada foi feito. A coisa piorou com  a Lei 9478/97, a "Lei do Petróleo", que quebrou o monopólio da Petrobrás e liberou a empresa para contratar sem licitação.

- É inadmissível a corrupção que suga nosso país, mas não se pode ser ingênuo e achar que começou agora. E ingenuidade maior é considerar que quem pede punição para todos está querendo proteger os corruptos atuais. Caramba! É preciso abrir os olhos, investigar e punir seja quem for, de qualquer partido.  

-Renan Calheiros, especialista em se safar de processos, tem um mofando no Supremo desde 2013. Também, já escapou da cassação por receber dinheiro de construtoras, até para sustentar filha fora do casamento. Agora, envolvido na Lava Jato, vendo a grande rejeição da presidente, resolveu ir contra ela para ter apoio popular e da mídia. Se ela reverter o baixo nível de popularidade, ele muda de lado. Enquanto isso, é poupado pelos manifestantes e pela Justiça.  

- A PF realizou várias operações, como a Castelo de Areia (envolvia PSDB-PDT-DEM-PP-PPS-PMDB-PSB), Boi Barrica (família Sarney), Satiagraha (Daniel Dantas, Cachoeira, Demóstenes), todas anuladas pela Justiça, apesar das provas contundentes. Essa seletividade prejudica o País. A Lava Jato, se incriminar políticos da oposição, acaba sendo anulada. Sempre dão um jeito.

- O pacote anticorrupção da presidente deveria mas não previu acabar com o famigerado foro privilegiado. Mas, já foi pior. O STF derrubou, em 2005, a Lei 10.628/02, promulgada por FHC na última semana do seu mandato, que ampliava o foro privilegiado para ex-autoridades e para ações por improbidade administrativa (uso de recursos públicos em benefício próprio ou de terceiros).

- Enquanto o governo federal mendiga votos no Congresso para onerar trabalhadores, a sonegação de impostos, como no caso dos correntistas secretos do HSBC, está em banho-maria. Nada se faz. Idem para a Operação Zelotes, que causou um prejuízo de  R$6 bilhões ao Tesouro. TRÊS VEZES maior que o da Operação Lava Jato, mas é muito pouco mostrada na mídia. Ambas envolvem os promotores das manifestações, políticos, bancos, mídia e grandes empresários.

Quanta coisa para manifestação! O Brasil não está bem. Mas, para não avalizar a pauta dos organizadores, saia com sua placa dizendo por que está se manifestando. Sem ingenuidade, sem fazer parte da manada, sem ser inocente útil.

angeloroman@terra.com.br 

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