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domingo, 19 de abril de 2015

JÁ FOI TERCEIRIZADO?

Dois anos depois que deixei de lecionar (parei a uma semana antes de se iniciar o ano letivo de 2009), fui chamado para voltar a dar aula numa conceituada faculdade.

O diretor me convidou, disse o que queria e passou as condições: eu receberia por aula dada, como pessoa jurídica. O pagamento seria feito mediante nota fiscal. Nada de FGTS, nada de férias remuneradas, nada de 1/3 de férias. Nem remuneração no descanso semanal. Sem amparo legal, pois terceirização só era permitida para atividade-meio. Mas era assim que funcionava. Aceitava-se ou não.

Para as empresas que contratam, a terceirização é uma maravilha (no aspecto financeiro), já que se livram de INSS e FGTS. Para as empresas terceirizadas, que têm empregados para realizar os serviços em outras empresas, muito bom. Ganham pela intermediação. O trabalhador fica com menos do que se trabalhasse direto na contratante. Quem tem empresa individual, como era meu caso, fica sem final de semana remunerado, férias e FGTS. O lado mais fraco é que perde. Como sempre.

Com relação à terceirização, o apresentador do Jornal da Globo William Waack pediu que o correspondente de Brasília comentasse o movimento “político-ideológico” dos trabalhadores contra o movimento de “modernização das relações trabalhistas” do Congresso (referindo-se ao projeto da terceirização). Modernizar? Isso é antiquar. As relações trabalhistas estão se deteriorando. Para a Globo, trabalhadores defenderem os direitos é ação político-ideológica, num sentido depreciativo; parlamentares destruírem as relações trabalhistas é modernizar, num sentido  valorativo.  

Vale dizer que, pelo projeto original, os concursos públicos serão diminuídos ou até extintos. Tudo pode ser terceirizado. Mais boquinhas para familiares de deputados montarem empresas de serviços e serem contratados.

O Legislativo, além da concessão de benesses aos parlamentares, está “trabalhando” como nunca, e aprovando o que não aprovava antes por falta de coragem ou, quem sabe, por um pouco de vergonha que tinha. Aproveita a surdez, a “indignação e o ódio cego da população, empenhada que está no degradante pedido de impeachment disseminado pelos donos do poder (o PT tem o governo, mas não tem o poder). Mesmo com a impossibilidade legal. Mas o objetivo é desviar o foco. A revolta da população é legítima, mas desvirtuada. Causou ódio. O ódio cega e aliena a pessoa. Já que não foram direcionados para isso, os manifestantes não se indignam com os verdadeiros promotores, alimentadores e responsáveis pela corrupção.

Fácil explicar por que estão acontecendo essas coisas. As empresas doaram R$ 5 bilhões para as campanhas eleitorais. Querem retorno do “investimento” (estima-se que, para cada real doado, elas recebem oito de volta). Não era tão fácil terem aprovados os  projetos que as beneficiavam. Agora, aproveitam e enfiam goela abaixo o que querem. Um deles: a terceirização. E isso é só o começo.

O alto Judiciário também aproveita, com seus aumentos salariais e de benefícios, suas mordomias, engavetamentos e seletividade nos julgamentos. Anula operações da PF, autoriza criminoso que mata no trânsito a evadir-se do local do crime para não “produzir provas contra si próprio” (?!?!). As provas são os mortos e o veículo, bolas! Indignação na população? Nada.

O Brasil vive um arremedo de parlamentarismo. Eduardo Cunha, o primeiro-ministro, investigado por envolvimento na Operação Lava Jato, foi aplaudido na CPI da Petrobrás. Esse é o nível do nosso Legislativo. Calheiros, apoiador de governos desde Collor, virou oposição por ter sido incluído na investigação da Lava Jato. Ameaçou o Procurador e foi pro lado da galera que se manifesta pelo impeachment. Assim, está protegido.

Os donos do poder estão direcionando a indignação. Isso nos leva para um beco sem saída. Terceirização é só uma gotinha.

No jornal:
http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=65280&Not=J%C3%A1%20foi%20terceirizado?

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