Dois anos depois que deixei de
lecionar (parei a uma semana antes de se iniciar o ano letivo de 2009), fui chamado
para voltar a dar aula numa conceituada faculdade.
O diretor me convidou, disse o que
queria e passou as condições: eu receberia por aula dada, como pessoa jurídica.
O pagamento seria feito mediante nota fiscal. Nada de FGTS, nada de férias
remuneradas, nada de 1/3 de férias. Nem remuneração no descanso semanal. Sem
amparo legal, pois terceirização só era permitida para atividade-meio. Mas era
assim que funcionava. Aceitava-se ou não.
Para as empresas que contratam, a
terceirização é uma maravilha (no aspecto financeiro), já que se livram de INSS
e FGTS. Para as empresas terceirizadas, que têm empregados para realizar os
serviços em outras empresas, muito bom. Ganham pela intermediação. O
trabalhador fica com menos do que se trabalhasse direto na contratante. Quem
tem empresa individual, como era meu caso, fica sem final de semana remunerado,
férias e FGTS. O lado mais fraco é que perde. Como sempre.
Com relação à terceirização, o
apresentador do Jornal da Globo William Waack pediu que o correspondente de
Brasília comentasse o movimento “político-ideológico” dos trabalhadores contra
o movimento de “modernização das relações trabalhistas” do Congresso
(referindo-se ao projeto da terceirização). Modernizar? Isso é antiquar. As
relações trabalhistas estão se deteriorando. Para a Globo, trabalhadores defenderem
os direitos é ação político-ideológica, num sentido depreciativo; parlamentares
destruírem as relações trabalhistas é modernizar, num sentido valorativo.
Vale dizer que, pelo projeto
original, os concursos públicos serão diminuídos ou até extintos. Tudo pode ser
terceirizado. Mais boquinhas para familiares de deputados montarem empresas de
serviços e serem contratados.
O Legislativo, além da concessão de
benesses aos parlamentares, está “trabalhando” como nunca, e aprovando o que
não aprovava antes por falta de coragem ou, quem sabe, por um pouco de vergonha
que tinha. Aproveita a surdez, a “indignação e o ódio cego da população,
empenhada que está no degradante pedido de impeachment disseminado pelos donos
do poder (o PT tem o governo, mas não tem o poder). Mesmo com a impossibilidade
legal. Mas o objetivo é desviar o foco. A revolta da população é legítima, mas
desvirtuada. Causou ódio. O ódio cega e aliena a pessoa. Já que não foram
direcionados para isso, os manifestantes não se indignam com os verdadeiros
promotores, alimentadores e responsáveis pela corrupção.
Fácil explicar por que estão
acontecendo essas coisas. As empresas doaram R$ 5 bilhões para as campanhas
eleitorais. Querem retorno do “investimento” (estima-se que, para cada real
doado, elas recebem oito de volta). Não era tão fácil terem aprovados os projetos que as beneficiavam. Agora,
aproveitam e enfiam goela abaixo o que querem. Um deles: a terceirização. E
isso é só o começo.
O alto Judiciário também aproveita,
com seus aumentos salariais e de benefícios, suas mordomias, engavetamentos e
seletividade nos julgamentos. Anula operações da PF, autoriza criminoso que
mata no trânsito a evadir-se do local do crime para não “produzir provas contra
si próprio” (?!?!). As provas são os mortos e o veículo, bolas! Indignação na
população? Nada.
O Brasil vive um arremedo de
parlamentarismo. Eduardo Cunha, o primeiro-ministro, investigado por
envolvimento na Operação Lava Jato, foi aplaudido na CPI da Petrobrás. Esse é o
nível do nosso Legislativo. Calheiros, apoiador de governos desde Collor, virou
oposição por ter sido incluído na investigação da Lava Jato. Ameaçou o Procurador
e foi pro lado da galera que se manifesta pelo impeachment. Assim, está
protegido.
Os donos do poder estão
direcionando a indignação. Isso nos leva para um beco sem saída. Terceirização
é só uma gotinha.
No jornal:
http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=65280&Not=J%C3%A1%20foi%20terceirizado?
No jornal:
http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=65280&Not=J%C3%A1%20foi%20terceirizado?
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