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domingo, 7 de setembro de 2014

BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO

Vá com Deus, meu filho!”. Assim o pai, meu amigo, se despediu de seu filho enquanto o caixão descia no túmulo. Ainda tenho comigo a imagem dessa triste despedida.

O rapaz, estudante em Curitiba, estava com amigos num bar da Rua 24 horas depois da aula, conversando, rindo. Foi abordado por seguranças fardados, não se sabe por que, e o levaram para uma “salinha” para conversar. Dali a pouco, um estampido. Mataram o rapaz: “A arma disparou acidentalmente”. Por que a arma, por que a abordagem?


Para o criminoso ser preso, o pai teve até que recorrer a pessoas influentes. Não sei o destino do assassino. Meu amigo  morreu pouco tempo depois. 


Hoje são comuns manchetes como “Policial mata inocente por engano”. “Inocente é morto por sargento da PM durante perseguição em Contagem”. “PM mata inocente e intruja maconha tentando justificar o homicídio”. Misturam-se bandidos e inocentes.


Uma simples suspeita pode levar à morte. Como isso acontece todos os dias, presume-se que não se aplica a justiça nos assassinos. O senso comum de que bandido bom é bandido morto alimenta essas ações.


Aplausos quando se pune sem observar direitos humanos e legais são um estímulo a essas ocorrências desastrosas. Fundamental pensar que a vítima pode ser um filho nosso, como aconteceu com meu amigo. Afinal, bandido é aquele que o matador autorizado "julga" e "pensa" que é.


Aplausos quando se pisa na lei para condenar também estimulam isso. Aconteceu recentemente quando elevaram Joaquim Barbosa a paladino da justiça. JB fez, pela primeira vez, acontecerem condenações a políticos, o que é elogiável, mas tomou decisões inaceitáveis (por exemplo, não separou julgamento dos que não tinham direito a foro privilegiado no Mensalão do PT, mas separou dos do Mensalão do PSDB. Manteve Dirceu em regime fechado, mesmo tendo sido julgado para semiaberto, etc.). Não defendo criminosos. Defendo a Justiça.


A revista Consultor Jurídico fala de JB. Até a leitura de decisão preparada por sua assessoria ele ia bem. Quando os colegas ministros questionavam algo, a coisa virava. Agressões e grosserias apareciam. Sem respostas aos questionamentos, relia o parecer, sem contemplar a resposta solicitada. Os assessores depois levavam chumbo por não preverem as perguntas que poderiam ser feitas em plenário.


Quem ousou criticar o ministro levou vaias.  Suas ações erradas foram aplaudidas, como se aplaude a polícia quando mata alguém indevidamente. Sem pensar que qualquer um de nós pode ter um processo e ser julgado por alguém que age como Barbosa. Hoje os políticos, amanhã nós próprios.


Poucos questionam o fato de não se julgarem processos como o Mensalão do DEM, o Mensalão do PSDB, o Escândalo do Metrô em São Paulo (que já foi julgado no exterior e aqui, nada). O que importa é os odiados (ou que a mídia manda odiar) estarem na cadeia, não interessa como.


Os defensores do “bandido bom é bandido morto” não incluem no "bom é morto" os protegidos Maluf, Cachoeira, Dantas, Arruda, Demóstenes. Por que não?


Alguém se lembra da Cláudia, arrastada pela rua, do Amarildo, do processo contra Collor (parado 4 anos na gaveta de Carmem Lúcia. Falsidade ideológica já prescreveu), do skinhead condenado a 26 anos por homicídio triplamente qualificado, que entrou com recurso e vai responder em liberdade? 


Estamos perdendo a capacidade de nos chocar. Desde as atrocidades da ditadura militar até a crueldade atualmente praticada por bandidos, policiais despreparados, o trânsito violento, a brutalidade, a corrupção autorizada. Tudo isso ficou comum. 


Falta pensamento crítico, que leva à generalização de que todos os que pertencem a uma determinada instituição, classe ou categoria são malandros, ou pedófilos, ou dinheiristas, ou corruptos, ou assassinos, etc.. Isso nos esvazia, nos faz votar mal e ter atitudes similares às que condenamos. 

Direto no jornal:http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=59759&Not=Bandido%20bom%20%C3%A9%20bandido%20morto!

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